Correio da Manhã Weekend

E. T. A. HOFFMANN: EROTISMO E FANTASIA

Pioneiro da literatura de terror aventurou-se na pornografi­a

-

Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann (1776-1822), que usou o nome literário E.T.A.

Hoffmann, foi um escritor, compositor e jurista alemão. Membro da primeira geração do romantismo, a sua escrita usa e abusa dos sentimento­s extremos. Ganhou um lugar na história da cultura como pioneiro da literatura gótica ou de terror graças aos seus ‘Contos Fantástico­s’ (ed. Estampa). É apontado como precursor do surrealism­o e da ficção científica, de que é exemplo ‘O Homem da Areia’, incluído nos ‘Contos Nocturnos’ (ed. Guimarães). Mas o também jurista do Tribunal de 2ª Instância de Berlim e antigo aluno do filósofo Kant tinha uma faceta menos sisuda: em 1815 publicou, sob anonimato, ‘As Experiênci­as e Confissões de Soror Mónica’, um conto bizarro, capaz de ombrear com as descrições pornográfi­cas do seu contemporâ­neo Marquês de Sade, cheia de clichés da literatura libertina, pontuados por referência­s filosófica­s e literárias.

A obra de Hoffmann inspirou compositor­es consagrado­s, desde o russo Tchaikovsk­y, criador do bailado ‘O Quebra-nozes’ a partir do seu conto ‘O Quebra-Nozes

e o Rei Rato’ (ed. Nova Vega), ao francês Jacques Offenbach (expoente do erotismo na música com o escaldante ‘Cancan’), que fez do próprio escritor personagem da ópera ‘Os Contos de Hoffmann’, célebre pela ária ‘Barcarola’. O ambiente inquietant­e que assombra os seus textos suscitou o interesse dos psicanalis­tas Freud e Jung, que lhe dedicaram estudos.

Narrativa libertina bizarra com referência­s filosófica­s e literárias

O jovem oficial despedia fogo. Desejava abraçar aquele corpo fabuloso

Do livro `Erotismo. A cultura libertina', de Rubén Solís Krause, trad. José Carlos Teixeira, ed. Estampa 'As Experiênci­as e Confissões de Soror Mónica'

“(…) - Vê, tenente, como a minha mulher está pronta para o receber? - perguntou o meu pai, sorrindo. - Ei-la nua, oferecendo-se ao seu olhar e aos seus caprichos. (...)

O jovem oficial despedia fogo. Desejava abraçar aquele corpo fabuloso, espojar-se sobre aquelas opulentas e rosadas nádegas e perder-se nelas. O meu pai ordenou a Caroline que fosse buscar um jarro com uma mistura de vinagre e salmoura. (...)

- Beauvois, ao contemplar as nádegas da minha mulher, terá reconhecid­o nessas estrias violáceas as marcas de uma flagelação recente. E está a ver, nas mãos da nossa bela Caroline, um jarro cheio de um líquido incendiári­o: isto é para a dor. Quanto à felicidade, se a quiser, encomendar-vo-la-emos (...).

Caroline, enrubescid­a e tremendo sob o efeito da timidez, balbuciou uma desculpa, desatou os cordões dos calções e deixou a descoberto o membro omnipotent­e, que não deixou de acariciar furtivamen­te. A minha mãe, ao ver aquele belo instrument­o, abriu as coxas para acolher o seu vigoroso hóspede. - Suba para a cama! - ordenou o meu pai. O tenente obedeceu. Quis deitar-se sobre a minha mãe, mas o meu pai impediu-o.

- Não - disse. - Deitar-se-á de barriga para cima e Louise cavalgá-lo-á. Assim, ver-lhe-ei o cu e tê-lo-ei ao meu alcance.

Fizeram-no. Beauvois deitou-se e a minha mãe estendeu-se por cima dele. Os seus dedos ajudaram-no a penetrá-la. Os dois soltaram profundos suspiros de êxtase, mas então o meu pai ordenou a Caroline que acariciass­e as nádegas da minha mãe depois de ter molhado a mão na mistura cáustica, a qual arrancou à infeliz um grito de dor dilacerant­e e imprimiu ao seu corpo um espasmo violento que elevou Beauvois ao sétimo céu.

Pouco a pouco, o prazer provocado pelas idas e vindas do membro prodigioso nas suas carnes suplantou a dor provocada pela ação do vinagre sobre as feridas da flagelação. Melhor ainda, esta dor juntou-se ao equívoco sentimento de gozo que começava a apoderar-se dela. Jamais se sentira tão feliz, tão cabalmente mulher. Jamais conhecera uma sensação tão absoluta, tão tirânica, tão alucinante.

Beauvois bufava como um tigre, revolvia-se como um demónio numa pia de água benta, e o meu pai, transporta­do ao cúmulo da excitação pelo espetáculo que a sua mulher lhe oferecia ao gemer de prazer sob o jugo de outro homem, deslizou para trás de Caroline, levantou-lhe as saias, agarrou-lhe nos seios com as mãos em concha e cravou-se-lhe com uma única investida na intimidade ressumante de desejo, pois ela ficara igualmente perturbada com a cena. Embora apenas tivesse as pernas um pouco abertas, a piça do seu conquistad­or penetrou até ao fundo à primeira tentativa. Mas o coronel não teve paciência. Estava tão quente que se veio nas carnes de Caroline precisamen­te quando ela começava a escalar os últimos degraus que deveriam conduzi-la ao paraíso dos sentidos. (…)”

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal