Correio da Manhã Weekend

“RUI COSTA VAI ESTAR NUM TANQUE CHEIO DE ENGUIAS”

MEMÓRIAS r Primeiro treinador de Rui Costa como futebolist­a sénior (Fafe, 1990, sob empréstimo do Benfica) recorda como era a jovem estrela no início da carreira CERTEZAS r Diz ter percebido imediatame­nte que estava perante alguém com muita ambição. E dá-

- PAULO JORGE DUARTE TEXTO LUÍS VIEIRA/MOVEPHOTO FOTOS

Correio Sport - Como é que Rui Costa foi contratado pelo Fafe em 1990?

António Valença - O Fafe pesquisava jovens jogadores da formação das equipas de futebol de topo. Numa ocasião, fomos assistir a um jogo de juniores entre o FC Porto e o Benfica, que se realizou no já inexistent­e estádio das Antas. O Rui Costa, nesse jogo, sobressaiu e também o Toni, do FC Porto. Falámos com o Benfica, explicámos o que pretendíam­os e o Rui Costa foi-nos cedido para a época 1990/91. -Jogar num patamar mais baixo fez Rui Costa evoluir?

- A Segunda Divisão B era muito competitiv­a, com equipas que hoje estão na Liga. Foi uma divisão perfeita para o Rui Costa evoluir. Já na altura, mostrava muita ambição, queria seguir a carreira de jogador profission­al. O Rui Costa ajudou-se muito a ele próprio, mas o Fafe também o ajudou a poder evoluir, teve uma transforma­ção total.

- Sendo um primeiro ano de sénior, Rui Costa mostrou margem de progressão?

- O Nelo Vingada, que era o adjunto do selecionad­or nacional Carlos Queiroz, admitiu, na altura, que o jogador de seleção que mais evoluiu naquele ano foi o Rui Costa. Foi ao serviço do Fafe que adquiriu uma grande maturidade. Disse-lhe muitas vezes, que se continuass­e a trabalhar como estava a trabalhar, a saber sofrer e a querer aprender… ia voltar ao plantel do Benfica.

- Percebeu qualidades para ‘vingar’?

- Para além de ter muita qualidade, era um rapaz com grande ambição. Quando o vi a jogar, no tal jogo de juniores com o FC Porto, percebi as suas qualidades. Tinha grande capacidade de fazer a mudança de flanco, passe longo extraordin­ário, quando saía a jogar, arrastava a equipa, sempre com a bola controlada. Logo ali, caíram os olhos por ele.

-Um jovem lisboeta sozinho no Norte. Teve dificuldad­es de adaptação ou saudades de casa? - O Rui Costa foi muito apoiado pela família, esteve sempre muito perto dele. Uma semana, ele ia a Lisboa, na semana seguinte a família vinha a Fafe. Esse círculo familiar deu-lhe muita proteção. Houve por isso um equilíbrio muito forte na evolução do Rui Costa.

- Na altura, qual foi a sua opinião de Rui Costa como homem?

- O Rui veio dos juniores e entrou no seu primeiro ano de sénior, ainda estava a formar a sua personalid­ade. No entanto, já dava para ver que era um rapaz solidário e equilibrad­o. Nas conversas de grupo, um espaço que eu abria para o plantel se exprimir, o Rui Costa dava a sua opinião de forma coerente, analisava as situações e sempre demonstrou uma boa visão. Era respeitado por todos, muito alinhado, em termos de educação. Mostrou sempre um caráter muito forte.

-No início da época foi praxado pelos mais velhos?

-(Risos) Os jogadores brincavam muito entre si. Foram sempre brincadeir­as saudáveis, eram coisas que ficavam no seio do grupo. O

PERFIL

Rui Costa teve muita sorte com o grupo de colegas que veio encontrar, era um grupo espetacula­r.

-E quanto a reações emotivas de Rui Costa? Também as teve? -Numa deslocação a Mirandela, o Rui Costa ficou no banco de suplentes. O campo era pelado e o Rui defendia-se nos campos pelados. Por isso, optei por ele não jogar de início (risos). O ‘gajo’ ficou com uma grande azia.

Dentro do balneário deu pontapés no cesto usado para guardar o equipament­o individual. Virei as costas, até fiz de conta que não via (risos). Durante o jogo, acabou por entrar e as coisas correram muito bem. O Rui Costa sempre foi titular, mas quando não era ficava sempre com azia. -Também reagia quando era substituíd­o?

-Quando tinha de ser substituíd­o, o Rui Costa também demonstrav­a grande azia, nunca mostrou satisfação. Jogar, dar tudo em campo, estava-lhe na massa do sangue.

-Foi um jogador que deu logo nas vistas?

- Claro. Por exemplo, num jogo de treino com o V. Guimarães, o João Alves, perguntou-me, muito entusiasma­do, quem era aquele ‘puto’ (risos). Disse-lhe: Quem é aquele

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