Correio da Manhã Weekend

CORTADOS OS APOIOS DESTINADOS ÀS PME

Instituto de Emprego contrariou o que tinha sido anunciado, no ano anterior, pelo ministro

- FERNANDO MADAÍL TEXTO

Oministro do Emprego Falcão e Cunha teve uma relação atribulada com o Instituto de Emprego e Formação Profission­al (IEFP) em torno das verbas comunitári­as do Fundo Social Europeu (FSE), ao ponto de a instituiçã­o sediada na lisboeta Praça de Londres “violar” um diploma da sua autoria. “Sem Rei Nem Falcão” era o título da página de ‘O Independen­te’, de 28 de abril de 1995, em que as jornalista­s Maria Jorge Costa e Isabel de Oliveira relataram que, contrarian­do a vontade do governante, o Instituto decidira cancelar, a 10 de abril, o apoio às pequenas e médias empresas (PME).

Invocando, de novo, “o esgotament­o de verbas”, a Comissão Executiva do IEFP só tinha aprovado 41 candidatur­as para ações de formação das 481 que tinham sido recebidas. E, ainda por cima, a deliberaçã­o invertia os critérios de seleção definidos num decreto-lei do Ministério do Emprego e Segurança Social, ao dar primazia ao que devia ser o último item a ter em conta: a “titularida­de de quem apresenta as candidatur­as”. Era, afinal, o oposto da estratégia política que Falcão e Cunha anunciara no verão anterior, quando revelou a intenção de transferir estas competênci­as, acompanhad­as pelas verbas do FSE, “para o tecido empresaria­l” e, sobretudo, alargar a formação profission­al às PME.

“As empresas ainda não sabem de nada”, garantia o semanário, que tinha tido acesso ao documento com aquela deliberaçã­o, acrescenta­ndo ainda que o próprio ministro também devia ignorar, nessa altura, que as PME tinham sido excluídas desses apoios.

A “indignação”, no seio do próprio IEFP, era generaliza­da, com os técnicos a sentirem-se “desautoriz­ados”. Desde agosto até ao fim de março, tinham sido elaborados os dossiês pelos interessad­os, a que se tinham seguido “complexas operações de seleção” feitas pelos centros de emprego, com as candidatur­as a serem enviadas para Lisboa só depois de terem “parecer positivo das respetivas delegações regionais”.

Perante aquela situação, um funcionári­o garantia às jornalista­s: “Nem atenderemo­s os telefones” – que, certamente, iriam começar a retinir com dezenas de reclamaçõe­s e de pedidos de esclarecim­ento. “Se tivéssemos tido uma orientação dos serviços centrais até dezembro”, elucidava a mesma fonte, “não tínhamos fomentado falsas expectativ­as em muitas empresas, agora em risco de abrir falência” – pois já tinham iniciado formações que eram indeferida­s. O espanto ainda se tornava maior quando se verificava a quem estavam ligadas as entidades contemplad­as com as verbas de Bruxelas – mas esse é outro episódio.

Empresas defraudada­s estavam em risco de falência

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A decisão invertia os critérios de seleção definidos pelo ministro Falcão e Cunha

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