Correio da Manhã Weekend

JOAQUIM PESSOA: POETA ERÓTICO E IRÓNICO

Elogio do corpo feminino em todas as posições

- POR JOÃO PEDRO FERREIRA

Sonetos atrevidos elogiam a sensualida­de lúbrica da mulher

Joaquim Maria Pessoa (n. 1948), conhecido como Joaquim Pessoa, é um poeta,

artista plástico e publicitár­io, autor de letras de canções populariza­das por nomes famosos da música portuguesa dos anos 70 e 80. É dele o poema ‘Amélia dos Olhos Doces’, um dos maiores êxitos de Carlos Mendes. São dele também os escaldante­s versos dos livros ‘Poeta Enamorado’ (ed. Edições Esgotadas) e, sobretudo, ‘Sonetos Eróticos & Irónicos & Sarcástico­s & Satíricos & De Amor & Desamor & De Bem & De Maldizer’ (ed. Litexa), uma coletânea atrevida em que a sensualida­de lúbrica do corpo feminino é homenagead­a em todas as posições, num hino ao desejo e à libertação sexual.

Natural do Barreiro, Joaquim Pessoa fez carreira na publicidad­e e publicou o primeiro livro, ‘O Pássaro no Espelho’ (ed. Moraes) em 1975. Foi no período pós-revolucion­ário que a sua obra poética teve maior notoriedad­e pública, com a edição de ‘Amor Combate’, ‘Canções de Ex-Cravo e Malviver’ ou ‘Português Suave’ (todos ed. Moraes), entre outros. Em 1981, ‘O Livro da Noite’ ganhou o Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura. No ano seguinte, ‘O Amor Infinito’ recebeu o Prémio de Literatura António Nobre. Também se dedicou à poesia para crianças: ‘A Assembleia dos Pássaros e Outras Histórias’ (ed. Moraes) ou o mais recente ‘Conversa com a Chuva’ (ed. Edições Esgotadas). A sua poesia foi reunida nos três volumes de ‘Obra Poética’ (ed. Litexa).

“Um espanto a tua boca entreabert­a,

aveludada, doce, suplicante.

A minha língua sorve-a à descoberta. Entreabres as pernas nesse instante

e outra boca se abre incendiada onde perco os meus dedos a tremer. Desço a boca até morder a luz molhada por entre os teus gemidos de prazer

e beijo a tua alma no teu corpo que se excita mais cada segundo a cada movimento, a cada sorvo.

E o desejo entre nós é tão profundo que penetrando em ti parece pouco o tempo todo que já tem o mundo.”

“Quero beijar teus pés e teus sovacos,

lamber tuas virilhas virilmente, sugar os teus mamilos, e nos nacos que são as tuas nádegas pôr o dente.

E pôr-me em ti as vezes que me pedes que são mais do que as vezes em que posso. Impulsões verticais, disse Arquimedes, de baixo para cima, até ao osso.

E sem osso nenhum ficar tão duro o meu sexo nas tuas mãos macias ou nos teus lábios, como fogo impuro!

E somos sempre três nessas orgias. Tu e eu. E o outro é o futuro a renovar o amor todos os dias.”

“O piercing na língua faz-me ponta,

melhora francament­e o sexo oral. Excita mais o pénis. Faz de conta que sendo a mesma coisa é afinal

uma coisa diferente pra melhor e melhor fora às vezes que não fosse porque queres a seguir fazer amor e entretanto o orgasmo foi precoce.

De modo que me fico, dividido, entre esse teu piercing atrevido e a prática clássica e banal.

Mas, assim mesmo, posso afirmar: que neste exame nunca vou deixar que fiques dispensada da oral.”

“Agora vira-te. De frente já gozámos

o que se goza enfrentand­o o mundo. E nesta posição já nos olhámos e pertencemo­s de um modo tão profundo

que precisamos agora de mudar não nos vá fazer mal tanta franqueza. Às vezes estar de costas é esperar um outro frente a frente com a certeza

de mudar será que para melhor e se for para melhor, melhor ainda, fazemos mais amor, melhor amor.

Há uma ideia em nós que nunca finda: a de que, seja em que posição for, o amor é das coisas a mais linda.”

Do livro `Sonetos Eróticos & Irónicos & Sarcástico­s & Satíricos & De Amor & Desamor & De Bem & De Maldizer', ed. Litexa Que neste exame nunca vou deixar que fiques dispensada da oral

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