Correio da Manhã Weekend

As guerras do Tejo

- SÉRGIO A. VITORINO EDITOR DE PORTUGAL

O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, veio admitir como solução para a falta de água no Tejo, entre Belver e Constância, a construção de um túnel (de 50 km e 100 milhões de euros) que transporte água do Cabril (Zêzere) para o maior rio da Península Ibérica, que vem de Espanha moribundo. Tecnicamen­te possível, politicame­nte um desastre. Ficámos a saber que Portugal desistiu de exigir aos espanhóis o que é nosso: água para manter a Economia e os ecossistem­as deste lado.

Em Espanha, há dezenas de anos que o Tejo é um joguete entre províncias e a ganância das elétricas. Na sua cabeceira, o transvase para o Segura leva a água para os campos de golfe e agrícolas de Albacete e Múrcia, tendo destruído vilas como Sacedón. O Tejo segue um fio, com um terço do que naturalmen­te teria, até que, junto a Aranjuez, recebe esgotos de 8 milhões de madrilenos. Antes de chegar a Portugal, ainda acumula fertilizan­tes da agricultur­a e passa por uma central nuclear e várias barragens que vazam ao sabor dos cofres das elétricas. Mesmo com tal destruição, o Governo prescinde de atuar junto de Espanha. “É ir à lã e ser tosquiado”, diz o ministro do Ambiente, manso como uma ovelha.n

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal