Correio da Manhã Weekend

Experiênci­as ilegais matam doentes Covid

ESCÂNDALO r Operadora de saúde acusada de testar medicament­os de eficácia duvidosa e de esconder mortes DENÚNCIA r Prática visava justificar teorias do presidente Bolsonaro

- DOMINGOS GRILO SERRINHA CORRESPOND­ENTE BRASIL

Aoperadora de saúde brasileira Prevent Senior, especializ­ada em atendiment­o a idosos e muito próxima ao ideário político e sanitário de Jair Bolsonaro, foi acusada de causar a morte de vários doentes de Covid-19 ao tratá-los com medicament­os de eficácia duvidosa para agradar ao presidente ou retirá-los precocemen­te dos cuidados intensivos para reduzir custos, mesmo sabendo que morreriam.

De acordo com as denúncias, a Prevent Senior usou ilegalment­e 636 doentes graves de Covid internados nos seus hospitais, sem o seu conhecimen­to ou das suas famílias, para realizar experiênci­as com medicament­os rejeitados mundialmen­te mas ‘prescritos’ e defendidos até hoje por Bolsonaro, como a Cloroquina ou a Ivermectin­a. O relatório final dessa assustador­a experiênci­a com humanos, asseguram os médicos que denunciara­m o caso, escondeu as mortes provocadas pelos testes e teve os resultados adulterado­spara permitir ao presidente ‘provar’ a tese dele de que a Covid-19 tem cura e que é o resto do Mundo que está errado.

Em depoimento à Comissão do Senado que apura os crimes cometidos durante a pandemia, a advogada Bruna Morato, que

PORMENORES

Poupar nos custos

Além de ajudar a promover as teorias defendidas pelo governo de Bolsonaro sobre a ‘cura’ da doença, a Prevent Senior recorria a medicament­os sem eficácia comprovada para tratar doentes com Covid-19 por serem mais baratos.

Mortes escondidas

A empresa mudava o Código Internacio­nal de Doença relativo à Covid-19 dos doentes após 15 dias, alegadamen­te para permitir que saíssem do isolamento. Desta forma, se acabassem por morrer ao fim desse período, a causa nunca seria o Covid, mas outra coisa qualquer. representa um grupo de médicos da Prevent que fez as denúncias, denunciou ainda que doentes com Covid-19 internados em Unidades de Cuidados Intensivos tiveram o oxigénio reduzido quando demoravam a reagir para morrerem sem deixar vestígios e abrirem vaga para outras pessoas. Os médicos que se opunham eram ameaçados e até despedidos.

O CEO da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, confirmou à CPI que doentes graves com Covid-19 foram retirados da UCI após 14 ou 21 dias e levados para o que ele chamou de “tratamento paliativo”, mas justificou que a medida era para os pacientes “morrerem com dignidade” por o quadro deles ser irreversív­el.n

DOENTES GRAVES TINHAM OXIGÉNIO REDUZIDO

PARA MORREREM

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Manifestaç­ão junto à sede da Prevent Senior, em São Paulo, na sequência das denúncias feitas na Comissão de Inquérito do Senado

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