Correio da Manhã Weekend

“Famílias pedem-me para não parar”

- VANESSA FIDALGO

Completa este ano 50 anos de carreira. Alguma vez pensou chegar até aqui e, aos 79 anos, ainda continuar ativo nos palcos?

– Nunca. Nem sequer que chegaria aqui com a música, porque comecei com o atletismo, que foi até a modalidade que me trouxe para Portugal, para representa­r o Benfica, aos 23 anos. Mas, depois, a música, a minha voz e o meu temperamen­to abriram muitas portas que não esperava. - A música trouxe a mudança de nome. O campeão dos 200 e 400 metros na Taça da Europa Barceló de Carvalho passou a chamar-se Bonga Kuenda. O que significa?

- Aquele que ‘apanha e corre sem parar’. É assim que eu sou. - Que momentos foram os mais marcantes da sua carreira na música?

- Sobretudo a internacio­nalização. A oportunida­de de gravar discos na Holanda, todas as portas que se abriram em Paris [França] para a minha música, das editoras aos concertos no Olympia. E as atuações pelo Mundo inteiro: no Harlem, em Nova Iorque [EUA], na Suíça, no Canadá, nas Antilhas, em Macau. Foram oportunida­des únicas.

- Nunca se arrependeu de ter deixado o desporto?

- Não, porque o meu futuro no desporto era limitado, e a música deu-me a possibilid­ade de chegar até aqui. Mas há uma coisa que sempre me fez sentir saudade: a camaradage­m no

Bonga desporto, que é verdadeira e não existe (de igual modo) em qualquer outro meio.

- E que pessoas mais o marcaram ao longo deste percurso? - Quase todas. Desde os meus músicos, que são como se fossem meus filhos, aos grandes com quem gravei e cantei: o Martinho da Vila, o Carlinhos Brown, o Manu Dibango. E, claro, a Cesária Évora!

- O que o motiva a continuar? - Ter famílias inteiras, várias gerações que vão juntas aos meus concertos, e pedem-me para não parar.

- Como serão os concertos que prepara para novembro? - Vão ter os êxitos que as pessoas gostam mais, como ‘Mariquinha’, ‘Olhos Molhados’ ou ‘Homem do Saco’, mas também as músicas do meu novo álbum.

- O novo disco , ‘Quintal da Banda’, chega até ao final do ano. Para onde nos remete?

- O quintal em Angola é a sala de estar, onde se come e se brinca. É onde a família, os vizinhos e os amigos se encontram. Onde se fala quimbundu e onde os mais velhos transmitem valores que hoje já não se usam. Foram assim os meus primeiros 23 anos de vida. O quintal é tudo o que eu sou.n

“BONGA KUENDA SIGNIFICA ‘APANHA E CORRE SEM PARAR’. É ASSIM QUE EU SOU”

“CAMARADAGE­M NO DESPORTO É VERDADEIRA E NÃO EXISTE NOUTRO MEIO”

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assinala, este ano, 50 anos de carreira e vai realizar dois concertos comemorati­vos em Lisboa e no Porto

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