É preciso salvar as sondagens
Depois de Rui Rio chamar “vigarice” às sondagens, o director-geral da Intercampus, António Salvador, argumentou na CMTV e ontem no CM contra o crescente clamor público a respeito de sondagens. A indignação é compreensível. Rio desceu ao insulto.
Os argumentos de Salvador em defesa das sondagens, ontem sistematizados no CM, são, ora verdadeiros, ora hipóteses. Diz, e bem, que as sondagens são retratos da opinião pública no momento em que se realizam e não previsões. Isto é tão certo que as empresas de sondagens deveriam acertar com os media seus clientes formas de apresentação verbal das sondagens que não façam delas previsões. Porque, e isso Salvador não diz, há jornais e TV, clientes das empresas sondadoras, que as apresentam como previsões ou até como resultados (já vi esta vigarice). Com o desvio de muito jornalismo para previsões de futuro, da política ao futebol, abastardando a nobre profissão jornalística de investigar o que realmente já aconteceu no mundo real, seria importante que as sondadoras conseguissem levar os media a sublinhar que as sondagens são retratos do passado (sim, do passado, do que os inquiridos responderam há dias às sondadoras) e não previsões.
Esperei que Salvador argumentasse com a pequenez do universo no caso de sondagens autárquicas, o que dificulta acertar se os clientes não pagarem amostras mais alargadas, mas ele preferiu avançar com explicações psico-sociológicas a partir de realidades exteriores à estatística: vota-se contra alguém e não por alguém, há elevada taxa de abstenção; parte dos eleitores não responde a sondagens se a sua opção de voto anda por baixo na percepção da opinião pública; e avança até com uma consequência das sondagens, o que me parece estranho: não voto na minha escolha porque ela, segundo as sondagens, já ganhou.
Estes três últimos argumentos são paradoxais, um verdadeiro tiro no pé, porque reconhecem haver sondagens que constroem um retrato distorcido das intenções de voto no momento, no próprio momento em que são feitas. Nestas autárquicas, vimos “retratos” aberrantes a posteriori, que permitiram a muitíssimos portugueses duvidar das sondagens, mesmo quando feitas segundo o rigor estatístico das regras internacionais.
Reconhecendo nestes argumentos a possibilidade de desvios gritantes, é pena que Salvador não tenha avançado com o mais importante: pretendem as empresas de sondagens alterar processos, para aproximarem os seus retratos da realidade do momento? Ou preferem correr o risco de fazer retratos aberrantes em próximas eleições e voltar depois às brilhantes explicações psico-sociológicas?n
EMPRESAS DEVERIAM
ACERTAR COM OS MEDIA FORMAS DE APRESENTAÇÃO
VERBAL DAS SONDAGENS QUE NÃO FAÇAM DELAS
PREVISÕES