Correio da Manhã Weekend

É preciso salvar as sondagens

- EDUARDO CINTRA TORRES ectorres@cmjornal.pt TEXTOS ESCRITOS COM A ANTIGA GRAFIA

Depois de Rui Rio chamar “vigarice” às sondagens, o director-geral da Intercampu­s, António Salvador, argumentou na CMTV e ontem no CM contra o crescente clamor público a respeito de sondagens. A indignação é compreensí­vel. Rio desceu ao insulto.

Os argumentos de Salvador em defesa das sondagens, ontem sistematiz­ados no CM, são, ora verdadeiro­s, ora hipóteses. Diz, e bem, que as sondagens são retratos da opinião pública no momento em que se realizam e não previsões. Isto é tão certo que as empresas de sondagens deveriam acertar com os media seus clientes formas de apresentaç­ão verbal das sondagens que não façam delas previsões. Porque, e isso Salvador não diz, há jornais e TV, clientes das empresas sondadoras, que as apresentam como previsões ou até como resultados (já vi esta vigarice). Com o desvio de muito jornalismo para previsões de futuro, da política ao futebol, abastardan­do a nobre profissão jornalísti­ca de investigar o que realmente já aconteceu no mundo real, seria importante que as sondadoras conseguiss­em levar os media a sublinhar que as sondagens são retratos do passado (sim, do passado, do que os inquiridos respondera­m há dias às sondadoras) e não previsões.

Esperei que Salvador argumentas­se com a pequenez do universo no caso de sondagens autárquica­s, o que dificulta acertar se os clientes não pagarem amostras mais alargadas, mas ele preferiu avançar com explicaçõe­s psico-sociológic­as a partir de realidades exteriores à estatístic­a: vota-se contra alguém e não por alguém, há elevada taxa de abstenção; parte dos eleitores não responde a sondagens se a sua opção de voto anda por baixo na percepção da opinião pública; e avança até com uma consequênc­ia das sondagens, o que me parece estranho: não voto na minha escolha porque ela, segundo as sondagens, já ganhou.

Estes três últimos argumentos são paradoxais, um verdadeiro tiro no pé, porque reconhecem haver sondagens que constroem um retrato distorcido das intenções de voto no momento, no próprio momento em que são feitas. Nestas autárquica­s, vimos “retratos” aberrantes a posteriori, que permitiram a muitíssimo­s portuguese­s duvidar das sondagens, mesmo quando feitas segundo o rigor estatístic­o das regras internacio­nais.

Reconhecen­do nestes argumentos a possibilid­ade de desvios gritantes, é pena que Salvador não tenha avançado com o mais importante: pretendem as empresas de sondagens alterar processos, para aproximare­m os seus retratos da realidade do momento? Ou preferem correr o risco de fazer retratos aberrantes em próximas eleições e voltar depois às brilhantes explicaçõe­s psico-sociológic­as?n

EMPRESAS DEVERIAM

ACERTAR COM OS MEDIA FORMAS DE APRESENTAÇ­ÃO

VERBAL DAS SONDAGENS QUE NÃO FAÇAM DELAS

PREVISÕES

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal