Corpos não reclamados em valores recorde
DADOS r Este ano, até final de setembro, havia já 189 cadáveres por reclamar, muito perto do valor máximo de 194, registado em 2009 IDADES r Sete destes casos dizem respeito a mortes de crianças
Onúmero de corpos não reclamados na cidade de Lisboa disparou com a pandemia e, este ano, deverá ser atingido um novo recorde. Depois de em 2020 ter havido 182 cadáveres por levantar - o que representou uma subida de 48% em relação aos 123 de 2019 -, este ano, os mortos ao abandono eram já 189, até ao final de setembro último.
Segundo os registos - compilados desde 2004 pela Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa-, o número mais elevado de indigentes mortos foi de 194, em 2009, na sequência da crise financeira de um ano antes. Com a pandemia, os números voltaram a aumentar, e nos três meses ainda não contabilizados deste ano deverá ser ultrapassado o máximo de 194.
“A cidade tem obrigação de conhecer a dimensão destes números e consciencializar-se para a suas causas e para esta situação de abandono em que vivem e morrem muitos dos seus habitantes, idosos e não só”, disse ao CM Mário Pinto Coelho, irmão-provedor da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa. Dos 189 corpos não reclamados em 2021, sete eram crianças e há um nado-morto.
O responsável destaca que estes cadáveres “não foram reclamados ao Instituto de Medicina
Legal por ninguém (familiares ou amigos)”. “Morreram na rua, nos hospitais, nos quartos alugados ou pensões, sem família, sem amigos, sem ninguém”, afirmou Mário Pinto Coelho. Os encargos com estes funerais são suportados pela Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa. Já a Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa “acompanha-os até à última morada, depositando na campa um pequeno ramo de flores e dando aos funerais e a quem morreu desta forma a dignidade que na maior parte dos casos não teve em vida”.n
MORTOS ESQUECIDOS NA PANDEMIA EM NÍVEIS IDÊNTICOS À CRISE DE 2008