Correio da Manhã Weekend

O circuito do croquete

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Os organismos públicos de carácter nacional – Parlamento e outros órgãos de soberania, bancos centrais e outros – deveriam estar disseminad­os pelo território. Assim é na Alemanha, onde o Banco Central se situa em Frankfurt (e não em Berlim). Na Holanda, a capital é Amesterdão e a sede do governo é em Haia. Em França, a Academia Militar é na Bretanha, não em Paris. Mas, por cá, tudo o que soa a poder fixou-se na capital; assim, “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”. E é pena. Até porque a distribuiç­ão das mais relevantes instituiçõ­es do poder democrátic­o pelo País seria a melhor forma de garantir a coesão nacional, uma vez que partes diversas do território assumiriam poderes e competênci­as, distintos e interdepen­dentes. Se o Parlamento estivesse sediado em Coimbra, por exemplo, para além de se instalarem no centro do país os deputados e todo o seu staff, também ali iriam acorrer todos os consultore­s que prestam apoio nas mais diferentes áreas.

Desenvolve­r-se-ia por certo uma ligação às universida­des de Coimbra e de Aveiro. O mesmo efeito se sentiria se os Tribunais superiores se instalasse­m em Guimarães, o Banco de Portugal no Porto ou a Academia Militar em Chaves.

Todas estas deslocaliz­ações seriam benéficas para as regiões que acolhessem as entidades referidas, permitiria­m a fixação de muitos quadros superiores fora da capital e obrigariam a uma redistribu­ição dos milhões gastos com órgãos de soberania.

Estas mudanças constituir­iam uma verdadeira reforma estrutural. Reforma que, com a actual classe política dirigente, jamais terá lugar. A oligarquia dominante quer viver na capital, perto dos governante­s que distribuem as verbas do Orçamento. Também o poder económico quer os vários decisores juntos, porque esta proximidad­e fomenta a promiscuid­ade entre os diversos poderes e entre estes e o tecido económico.

Daí que muitos dos mais relevantes aspectos da vida nacional sejam decididos em almoços nos restaurant­es da moda em Lisboa. E muitos investimen­tos públicos sejam determinad­os pelos que frequentam os cocktails de fim de tarde na capital, em concertos e vernissage­s, ou nas recepções das Embaixadas, aquando da comemoraçã­o do dia de cada país. É neste “circuito do croquete” que se decide o futuro da nação.n

IRIA TRAZER PARA A CIDADE TODOS OS CONSULTORE­S QUE PRESTAM APOIO NAS DIFERENTES ÁREAS

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