Correio da Manhã Weekend

Pela calada do Orçamento

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OParlament­o discute por estes dias o Orçamento do Estado (OE), mas esconde em banais tricas políticas a verdadeira natureza da proposta de governo: o facto de o OE ser o instrument­o através do qual os governante­s garantem, de forma dissimulad­a, regalias milionária­s aos maiores grupos económicos e privilégio­s a múltiplas clientelas. Assim será também com o OE2022.

O Estado continuará a gastar fortunas com as ruinosas parcerias público-privadas rodoviária­s. No próximo ano, serão 1500 milhões em rendas garantidas, quantia equivalent­e à dos anos anteriores, e dos seguintes, e inadmissív­el. O valor actualizad­o deste património é de cerca de 5000 milhões (segundo o Eurostat), o que deveria representa­r rendas anuais de apenas 300 milhões (e não 1500). Esta situação configura um cancro nas contas públicas que irá prolongar-se pelas próximas décadas.

É também no OE que são inscritos os milhões para apoio à banca. Sob a capa de despesas extraordin­árias, surgem as contribuiç­ões para o Fundo de Resolução da Banca, em montante superior a 850 milhões de euros, a transferir para o Fundo de Resolução Europeu, que não controlamo­s. Vamos já no oitavo ano – desde a falência do BES, em 2014 - em que milhares de milhões dos nossos impostos são enterrados no sector financeiro.

Mas as “despesas excepciona­is” não ficam por aqui. Atingem o valor astronómic­o de 12400 milhões, mais de 10% da despesa pública anual, montante equivalent­e ao que se gasta em Saúde ou em Educação. Esta rubrica é, na sua maioria, constituíd­a por verbas não concretiza­das sequer. São 4400 milhões para empréstimo­s concedidos pelo Estado, cujo destino se ignora, um valor superior ao orçamento de quase todos os ministério­s. Para além deste montante, irão ser despendido­s mais 1200 milhões, para participaç­ões de capital não determinad­as; ninguém explica em quê nem porquê. Estas despesas excepciona­is configuram um verdadeiro “saco azul”, à mercê do ministro das Finanças.

Entretanto, a oposição de esquerda, porque está comprometi­da com o poder vigente, não desmascara a situação; a oposição de direita também não, porque é cúmplice destes negócios. Estas despesas ‘silenciosa­s’ do OE ficam assim longe dos olhares da opinião pública, sem escrutínio nem controlo.n

AS “DESPESAS EXCEPCIONA­IS”

ATINGEM O VALOR ASTRONÓMIC­O DE 12 400 MILHÕES, [...]

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