Correio da Manhã Weekend

MANUEL MACHADO “O ESPETÁCULO DO FUTEBOL, HOJE, É ENTEDIANTE”

ANALISTA r Treinador está atualmente sem clube mas mantém-se atento. Assume uma postura crítica em relação à forma como hoje se pensa o futebol. E dá ideias práticas para a melhoria do jogo

- PAULO JORGE DUARTE TEXTO MOVENOTÍCI­AS FOTO 23 OUTUBRO 2021

Mais Sport - O que tem feito nos últimos tempos?

Manuel Machado - Não tenho estado parado. A vida não se resume ao futebol, há sempre outras atividades, a família e os amigos. Vou tendo, por isso, dias tranquilos e sem stresse por ausência de algo de que muito gosto. Obviamente, tenho visto jogos de futebol para me manter a par do que se está a passar.

- O último trabalho, com o Nacional, foi difícil?

- Sou um homem de afetos e por isso há questões ligadas às minhas três últimas passagens, relativame­nte curtas, no Arouca, Moreirense e Nacional. Só por questões afetivas as aceitei fazer. Se fosse por questões profission­ais e de sucesso, não tinha, em nenhum momento, aceitado nenhuma delas. Foram três passagens muito negativas, sem condições, com descidas de divisão injustamen­te coladas à minha pessoa, que em termos de imagem destruíram uma carreira de 20/30 anos relativame­nte positiva. Nas doze épocas anteriores, que foram completas, consegui seis apuramento­s para as competiçõe­s europeias e uma final de Taça de Portugal. Não se estando no lugar certo à hora certa… todo o trabalho anterior acaba por ficar com esses momentos menos positivos.

- A passagem pelo Berço (Campeonato de Portugal) foi positiva? - Foi positiva e interessan­te. Com a minha experiênci­a, pude ajudar a crescer quem está a começar, um clube sem estrutura física, a convite de dois amigos. Ajudei a trazer algum conhecimen­to à equipa técnica, que lá permanece e tem feito um trabalho brilhante. Do ponto de vista pessoal, deu-me alguma satisfação anterior ter tido a oportunida­de de fazer uma retribuiçã­o ao futebol que muito contribuiu para aquilo que sou, do ponto de vista espiritual e material. - Como analisa o futebol atual? - Em termos de evolução do jogo, há um problema de antecipaçã­o do conhecimen­to. Há demasiada informação, o que permite adivinhar e saber tudo o que o adversário vai fazer. Ora, esse conhecimen­to é mútuo, o que leva a um bloqueio do próprio jogo. A espontanei­dade acaba por ser escassa e torna os jogos muito pouco interessan­tes e até um pouco entediante­s. Por vezes, só por obrigação de não perder o contacto com aquilo que se vai passando é que consigo aguentar os noventa minutos do jogo. Hoje, joga-se tanto em direção à própria baliza como à do adversário.

- É uma crítica aos clubes grandes?

- É tudo igual, no plano nacional e internacio­nal. O espetáculo, hoje, é entediante e se não for feito alguma coisa, não sei que futuro é que o futebol vai ter. Se eu mandasse… fazia duas alterações à lei. A bola, depois de sair da grande área, já não poderia regressar. O guarda-redes poderia voltar a tocar na bola mas seria fora dessa zona. O campo seria dividido em três. Só haveria fora de jogo no último terço. Haveria outro espaço entre linhas, maior profundida­de e o jogo iria ter outra verticalid­ade. Em consequênc­ia, os lances de finalizaçã­o iriam multiplica­r-se. Em resumo, o espetáculo seria valorizado.

- Espera voltar a trabalhar?

- Não tenho nem nunca tive agente. Neste início de época tive vários convites de clubes nacionais e estrangeir­os mas declinei. Não estou obcecado por voltar a treinar, apenas vou aceitar um trabalho que seja interessan­te. Não procurar, a qualquer preço, um espaço de trabalho.n

PERFIL

MANUEL ANTÓNIO MARQUES MACHADO nasceu em Oliveira, Guimarães, no dia 4 de dezembro de 1955 (65 anos). Iniciou a carreira em 1980/81, como treinador-adjunto na equipa de juniores do V. Guimarães, onde esteve até atingir a formação principal, na época de 1992/93. Treinou equipas como o Fafe, Moreirense, Nacional, Académica, Sp. Braga e Berço SC, algumas delas mais do que uma vez. Teve uma experiênci­a internacio­nal, em 2011/12, no Aris Salonica (Grécia). No currículo tem um título nacional na II Liga, com o Moreirense, em 2001/02, outro na II Divisão B, também com o Moreirense, e um campeonato nacional de juniores, com o V. Guimarães.n

“HOJE, JOGA-SE TANTO EM DIREÇÃO À PRÓPRIA BALIZA COMO À DO ADVERSÁRIO”

“SE NÃO FOR FEITO ALGUMA COISA, NÃO SEI QUE FUTURO É QUE O FUTEBOL

VAI TER”

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