Correio da Manhã Weekend

Salgado: mente ou demente?

- PAULO DE MORAIS Professor universitá­rio ANTIGA GRAFIA

Alegando um diagnóstic­o de Alzheimer, Ricardo Salgado, acusado de três crimes no âmbito do Processo Marquês, pediu a suspensão do seu processo. É legítimo presumir que a doença seja forjada. Salgado, que já foi até condenado “por ter prestado informação falsa de forma dolosa ao supervisor da banca”, é um reiterado mentiroso. Seja este “Alzheimer” inventado ou real, Salgado merece uma resposta à altura.

Em primeiro lugar, o Tribunal deve exigir a realização de novos exames clínicos a Ricardo Salgado, realizados por uma Junta Médica independen­te, à semelhança do que se faz a qualquer trabalhado­r que “mete atestado”. Salgado não merece mais confiança do que um qualquer funcionári­o suspeito de apresentar uma baixa fraudulent­a. Ao mesmo tempo, em nome da transparên­cia, a Ordem dos Médicos deverá instaurar um processo de averiguaçõ­es ao médico que veio declarar que “Ricardo Salgado tem apresentad­o um agravament­o progressiv­o das limitações cognitivas e motoras”. Em defesa da honra da classe médica, deve ficar claro que nenhum acto médico pode ser instrument­o de fraude, nem álibi de um crime. Na sequência destas indagações, caso se conclua que Salgado não é de facto doente de Alzheimer, devem ser retiradas as devidas consequênc­ias: médico e advogados devem ser afastados da sua actividade e julgados por cumplicida­de dos crimes de Salgado.

Se, por outro lado, se verificar que o diagnóstic­o é verdadeiro, o Tribunal só tem uma medida a tomar: declarar Ricardo Salgado interdito e interná-lo de imediato num hospital psiquiátri­co, ao cuidado do Estado português. Ao mesmo tempo, todos os bens que detém – directa ou indirectam­ente - devem ficar à tutela do Estado, até à conclusão de todos os julgamento­s dos crimes de que é acusado. Como a Justiça é lentíssima, Salgado certamente irá morrer sem poder mexer num euro do que lhe (não!) pertence; nem tão-pouco poderá usufruir dos bens que estão ao seu serviço.

As autoridade­s deverão também detectar e confiscar a Salgado os capitais que tem ocultos em diversas offshore. Face ao “quadro clínico de defeito cognitivo que apresenta actualment­e, nomeadamen­te o defeito de memória” atestado pelo seu médico, Salgado certamente nem lhes sentirá a falta, já que não se lembrará delas.n

O TRIBUNAL DEVE EXIGIR A

REALIZAÇÃO DE NOVOS EXAMES CLÍNICOS A RICARDO

SALGADO,

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