Correio da Manhã Weekend

Orçamento Frankenste­in até já mete ‘rebajas’

- EDUARDO CINTRA TORRES ectorres@cmjornal.pt TEXTOS ESCRITOS COM A ANTIGA GRAFIA

Lendo, ouvindo e vendo os media, fica-se com a impressão que o governo anda no Orçamento como diz o ditado chinês, a tentar matar cinco pulgas com os cinco dedos da mão. Tarefa impossível. O Orçamento minoritári­o, com as pressões PC, BE e PAN, vai de geringonça a desengonço, monstro de Frankenste­in, feito de bocados de corpos alheios: fica em condições de passar! É a isto que Costa, Marcelo e Marques Mendes chamam política ‘racional’. Para eles, um partido votar contra o Orçamento alheio, que não aprecia, é ser ‘irracional’. A este ponto chegou a ‘racionalid­ade’ da demagogia.

O Orçamento Frankenste­in é o preço que Costa está a pagar pela sua arrogância de seis anos, que esta semana tentou iludir ao prometer, ele!, ser humilde (durante oito dias, pela certa!). Poderia ter o apoio do PSD de Rio, mas foi tão arrogante que, no passado, disse “jámé” a essa possibilid­ade. Ao fechar essa porta, vê-se obrigado a escancarar portas, portadas e janelas do Orçamento Frankenste­in aos camaradas de desengonço, em especial a porta da despensa, onde guardava uns trocos para acorrer a alguma aflição. Adia a aflição financeira, fica com a aflição política, que o levou a aprovar medidas sem sequer informar, como devia, a Concertaçã­o Social. Toca de pedir desculpas de mau pagador. Horas antes, o ministro das Finanças chamou os media, para lhes vender a medida do desconto nos combustíve­is para as míticas ‘famílias’, que só nesta altura do ano aparecem no discurso político. Leão parecia à porta da loja anunciando saldos ou ‘rebajas’ — “aproveitem! É só até Março!” — no preço da gasolina, tudo menos baixar o imposto dos combustíve­is, o tal que chega aos 60% por litro. A ‘rebaja’ não seria desconto imediato, mas mais do tipo desconto em cartão, para quem se desse ao trabalho de tratar do assunto.

Entretanto, Marcelo está tão nas mãos do governo que é Costa quem parece presidente da República e ele, coitado, faz figura de perpétuo compère comentador político aprovador de tudo o que Costa faz. Vamos vendo nos ecrãs este teatrinho cómico, que eles fingem ser drama, como se o processo democrátic­o fosse um drama.

Temos sido um país sem presidente da República, sem o maior partido da oposição e com um governo minoritári­o que assalta todos os poderes em todas áreas e em todas as instituiçõ­es. A situação é bizarra, mas fingem todos que não é, e lá vamos pagando e rindo. Com o Orçamento nota-se a bizarria, porque pode fazer cair o governo. Daí Costa ter de fingir humildade por uns dias. Mas, passando o Orçamento, voltará o mesmo, em pior. O monstro de Frankenste­in também deu para o torto.n

O ORÇAMENTO FRANKENSTE­IN É O PREÇO QUE COSTA ESTÁ A PAGAR PELA SUA ARROGÂNCIA

DE SEIS ANOS

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