ABSTENÇÃO ATINGE A MAIORIA NAS LEGISLATIVAS DE 2019
ELEITORES Desde 25 de abril de 1975, a abstenção tem vindo sempre a crescer, com mais não votantes do que votantes nas últimas Legislativas
Os portugueses abstêm-se cada vez mais desde as eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, excetuando em três do total de 16 sufrágios para o Parlamento, tendo sido mais os não votantes do que os votantes nas últimas Legislativas.
A abstenção em Legislativas tem vindo sempre a subir desde 25 de abril de 1975 (o menor valor, de 8,34%) até à mais recente votação do género, em 6 de outubro de 2019 (o mais alto registo, de 51,43%). Só em 1980, em 2002 e em 2005 houve quebras na galopante taxa de eleitores ausentes das mesas de voto, à medida que o entusiasmo com o regime democrático, após 48 anos de ditadura fascista do Estado Novo, foi esmorecendo. A última vez em que houve uma quebra na tendência abstencionista crescente foi em 20 de fevereiro de 2005, quando se verificou uma baixa de cerca de três pontos percentuais face à eleição anterior.
Após oito meses do Governo do primeiro-ministro da coligação pós-eleitoral PSD/CDS-PP, Santana Lopes, o então Presidente da República, Jorge
Sampaio, dissolvera o Parlamento por “irregular funcionamento das instituições” e convocara novas eleições.
Então, os portugueses foram às urnas em maior percentagem do que três anos antes e votaram maciçamente no PS, que obteve assim a sua primeira e até agora única maioria absoluta (45%), com José Sócrates na liderança.
No sufrágio imediatamente anterior, em 17 de março de 2002, também já tinha havido um recuo da abstenção face às eleições anteriores, desta feita ligeiríssima (menos de uma décima percentual). Foi quando os eleitores lusos foram chamados a pronunciar-se depois de o então primeiro-ministro de um segundo Governo minoritário socialista, António Guterres, pedir a demissão para evitar o “pântano” político, após perder as eleições Autárquicas de dezembro de 2001.
Antes, é preciso recuar 42 anos para encontrar nova quebra da taxa de abstenção: dois meses antes de morrer, o social-democrata Francisco Sá Carneiro conseguiu o seu segundo triunfo seguido com a Aliança Democrática (PPD/CDS/PPM), em 5 de outubro de 1980.
Nas últimas Legislativas, realizadas em 2019, foram mais os que optaram por não votar do que os que exerceram o seu direito de voto, com a abstenção a fixar-se nos 51,43%.
nO presidente do Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, disse ontem que quem não quer reformar o SNS está a contribuir para a sua “implosão, defendendo a abertura da prestação de cuidados de saúde aos privados. O líder do IL, no final de uma visita ao Centro Universitário Hospitalar de Coimbra, afirmou que o objetivo é permitir às pessoas escolherem o prestador de saúde que mais lhes interessa.n
NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES DE 2019, A ABSTENÇÃO SITUOU-SE NOS 51, 43%
O PCTP/MRPP classifica as próximas eleições como “burguesas”, considera que um Governo que sair do ato eleitoral “não vai resolver os problemas do País”, e olha para a dívida pública “como uma forma de limitar” Portugal. A cabeça de lista por Lisboa, Cidália Guerreiro, culpa ainda “o Parlamento no seu conjunto” pela crise política que fez cair o Governo, e afirma que o partido, de inspiração maoista, “não é eleitoralista”.n
SÓ NOS ANOS DE 1980, 2002 E 2005 HOUVE QUEBRAS NA TAXA DE ELEITORES
GOVERNO DE SÓCRATES É A ÚNICA MAIORIA ABSOLUTA SOCIALISTA REGISTADA
A forma como são apresentados os valores da abstenção devia ser revista para que fosse tida em consideração a abstenção técnica, resultante do recenseamento automático e dos eleitores-fantasma, sobretudo no estrangeiro, defendem João Cancela, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.n