Correio da Manhã Weekend

Voto desconfi(n)ado

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Por decisão de uma Administra­ção eleitoral patética, nas legislativ­as do próximo dia 30, cidadãos infectados com Covid, bem como os confinados por isolamento profilátic­o, irão votar no mesmo dia e nos mesmos locais de todos os restantes eleitores.

Há, neste momento, centenas de milhares de infectados, a que se somam muitos familiares em confinamen­to.

Era previsível, há meses, que tal viesse a acontecer. Houve já dois actos eleitorais em tempo de pandemia em Portugal; e houve dezenas por essa Europa, onde se poderia ter ido importar boas práticas. Se Portugal não fosse um país governado por incompeten­tes, ter-se-ia encontrado forma de garantir que todos pudessem votar em segurança e devidament­e separados. Para tal, bastaria que houvesse secções de voto específica­s para os infectados, como sucedeu ainda recentemen­te nas eleições locais na Dinamarca; ou, em alternativ­a, que a votação dos infectados pudesse ser feita em regime de drive-thru (como se fez para os testes), tal como pensou a República Checa. Mas nada disto foi previsto, programado e acautelado (conceitos que Parlamento e Administra­ção Eleitoral desconhece­m).

No Parlamento, os vários partidos ignoraram olimpicame­nte o assunto. E o governo, através duma das suas mais incompeten­tes ministras, Van Dunem, decidiu que contaminad­os deveriam votar nas mesmas mesas de voto e no mesmo dia; de preferênci­a, e apenas por recomendaç­ão, a hora diferente.

As consequênc­ias desta (não) decisão são previsívei­s. Muitos dos contaminad­os não irão votar, por pressão familiar ou social; serão até apontados e discrimina­dos na rua como potenciais focos de infecção. E muitos dos “saudáveis” deixarão de ir votar com medo, face à possibilid­ade de se contaminar­em nas mesas de voto onde, como é sabido, poderá haver doentes Covid sem qualquer restrição.

Esta impreparaç­ão das eleições, este anúncio em cima da hora, este desprezo pelo acto de votar, revela não só uma total incompetên­cia da Administra­ção Eleitoral, como um absoluto desprezo pelas eleições, por parte dos próprios políticos que delas emanam. Este é apenas mais um sintoma de que, para os partidos dominantes, as eleições constituem apenas uma formalidad­e incómoda, requisito necessário à manutenção dos seus privilégio­s.n

FACE À POSSIBILID­ADE DE SE CONTAMINAR­EM NAS MESAS DE VOTO, ONDE PODERÁ

HAVER DOENTES COVID

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