“FOMOS TRATADOS COMO CRIMINOSOS NO REGRESSO A CASA”
ALTRUÍSMO Foi como voluntário para a Índia, no lugar de um amigo que tinha perdido o pai CATIVEIRO Esteve numa parada para ser fuzilado
Jorge Vaz foi para a Índia em agosto de 1961, trabalhava no laboratório militar, junto ao hospital, em Pangim. Era lá que estava, a 18 de dezembro, dia em que a União Indiana invadiu o território.
“A invasão começou na fronteira, por volta da meia-noite. Eles foram avançando e o pessoal foi recuando. Os do Sul para a cidade de Vasco da Gama e os do Norte para Pangim. Eu fiquei sempre no mesmo sítio. Estava a tomar o pequeno-almoço, às 7 da manhã, e a ouvir a emissora de Goa, que foi bombardeada e deixou de funcionar. Sem comunicações, passámos o dia e a noite seguinte na expectativa. Ouvia-se a luta, as explosões e o tiroteio. E nós sem sabermos nada.”
Em 36 horas, a União Indiana tomou conta do território. “No dia 19, pelas 11 horas, alguns populares manifestaram-se ‘jai Hind, jai Hind’ [Viva a Índia]. Depois, apareceram dois jipes em frente ao hospital, uma travagem brusca, metralhadoras montadas em tripé viradas para nós. Pensei: ‘o que nos vai acontecer agora?’”A rendição foi anunciada pouco depois.
“Bebíamos a água da piscina”
Seguiu-se o cativeiro. “Estivemos primeiro no campo provisório do Altinho, onde bebemos a água da piscina para sobreviver, e depois num campo de concentração em Pondá.” A 19 de março de 62, Jorge é um dos soldados que são colocados numa parada para serem fuzilados. Escapam, graças à intervenção do capelão Ferreira. “Foi um período muito complicado, estive mais tempo em cativeiro do que em liberdade. Era preciso uma condição psicológica equilibrada, mas eu sabia porque é que lá estava.” Foi como voluntário no lugar de um amigo, com 10 irmãos, que tinha perdido o pai. Quando regressou, Jorge que tinha 11 irmãos - foi tratado “como criminoso” e soube que o próprio pai também tinha morrido, ironia do destino. Em 63 embarcou para Angola.n