CONCERTO GROSSO

É

um rapaz muito bem-educado. Só se senta quando me sento. Abre a porta para que eu entre antes da sua sombra. Só põe o garfo à boca quando me vê a mastigar. É um dos poucos prazeres com direito a degustar na minha companhia. O repasto, geralmente é depois, sim, melhor que seja a seguir à festa, porque a digestão é capaz de ficar comprometida. O seu comportamento difere, e muito. Não que me meta medo. Ele mete tudo menos medo. Se à mesa a criatura é um fidalgo, no assunto que o traz à minha beira, apresenta-se completamente diferente. Vai diretamente ao que interessa. Não faz rodeios nem cerimónias. Essa etiqueta, educação, ou o que seja, vai para o fim da fila. Mas, e atenção, não é besta nenhuma, aliás se fosse, não passava da escada, aqui não se atendem cavalos. Gosto, é verdade, gosto, e poucos acreditariam que haveria de gostar dos efeitos de alguém, que mal chega, já me põe no

AFASTA-ME UMA PERNA E NÃO TARDE PARA

QUE À OUTRA LHE FAÇA O MESMO. LEVA-AS AOS SEUS OMBROS. ENSURDECEU

seu colo. Rodeio no Texas ou em Caneças, desconheço como seja e quem se aguenta, no nosso caso, aliás, no meu caso, não é complicado permanecer em cima da montanha. Consistente, como a rocha, faz encaixe perfeito, Sobe-se, roda-se para a frente e para trás, sem se ir ao charco. As mãos do prazer não precisam de dar ajuda; dali, de onde está a minha natureza aberta, nada é desviado. Enquanto estou a ser rodeada, o homem, que já esteve em duas guerras, junta os meus cabelos, agarra-os com a força necessária, depois, e por alguns minutos só quer pescoço. Há bocas que têm mais do que uma língua. Que maravilha. Arrepia. Segue a fundo com pedal curto, vai dando ordens, com cara de um mauzão manteiga. Deita-me com o peito junto ao meu. Afasta-me uma perna, e não tarda para que à outra lhe aconteça o mesmo. Leva-as aos seus ombros. Ensurdeceu, não me ouve. Entra e sai e sai e entra. Está mortinho para que lhe tape a saída.