Podemos, sim
Pronunciada, a Fátima Bonifácio foi pronunciada. Em consequência da participação criminal apresentada pelo SOS Racismo, a historiadora vai ser julgada pela prática de um crime de discriminação racial. Escreveu o que não se pensa. Vivo, desde Julho de 2019, e com gravidade esdrúxula, o texto ‘Podemos? Não, não podemos’, publicado no ‘Público’, ficou arrumado na memória triste. Sem qualquer tipo de constrangimento e cerimónia, a autora usa e abusa de ideias generalizadas, para etiquetar comunidades e sepultar os seus membros no determinismo de que nunca nunca se libertarão: “Eles são assim.” E a historiadora como é que ela é? Quem é que assume que nem africanos nem ciganos “descendem dos Direitos Universais do Homem decretados pela Grande Revolução Francesa de 1789”, “Os africanos são abertamente racistas: detestam os brancos sem rodeios; e detestam-se uns aos outros quando são oriundos de tribos ou ‘nacionalidades’ rivais”, “os ciganos, sobretudo, são inassimiláveis... É só ver o modo disfuncional como se comportam nos supermercados”, “O que temos nós a ver com este mundo? Nada. O que tem o deles a ver com o nosso? Nada”. Basta. Que a idade já dói no estômago. Nós e o nosso são ramelas. As suas frases são abusivas e ofensivas. Fátima Bonifácio não se encontra em solidão nesta partilha de conclusões. Há almas que lhe dão vénias na terra. Interessa-lhes
a cor da pele das pessoas, a linda raça pura lusitana e a linha directa da Cristandade. O 25 de Abril a caminho da maturidade maior e ainda se fala, por aí, que será uma tareia à liberdade de expressão se Fátima Bonifácio vier a ser condenada. Poderá a própria ter direito a dizer dia sim, dia sim, que os pretos e ciganos não têm nada a ver connosco? Como se o connosco fosse o certo e correcto na sua análise.
Isso, sim, é um golpe profundo na carótida dos valores de Abril.
“As frases de Fátima Bonifácio são abusivas e ofensivas”