Correio da Manhã Weekend

Moshchun, a vila-mártir

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Situada 23 quilómetro­s a norte de Kiev, Moshchun foi a localidade dos arredores da capital mais destruída pela guerra. Nos dias 24 e 25 de fevereiro, no início da invasão, a vila, com cerca de 800 habitantes, esteve 48 horas debaixo de fogo cruzado. Morreram 14 pessoas e, das 250 casas existentes, apenas cinco escaparam aos mísseis e às bombas. Foi por aqui que uma das mais poderosas colunas do exército russo tentou a entrada em Kiev. Os contingent­es ucranianos estacionad­os em Gostomel e Gorenka tentaram travar a ofensiva e o ritmo de disparos, de ambos os lados, foi ininterrup­to. Os moradores esconderam-se nas caves e foram retirados três dias depois. Sem água, gás ou eletricida­de e com as casas destruídas, só seis pessoas regressara­m. “Eu vivi aqui os meus 70 anos. Para onde hei de ir? Ontem andei pela vila a chorar. Ando pelas ruas não vejo ninguém a não ser eu. É assustador”, disse a viúva Ludmila Tkachenko, que teima em voltar a Moshchun. Junto aos escombros de uma casa, um cão, de olhar triste, aguarda a chegada do dono que, ao que soubemos, já não regressará. “Aqui não há nada de bom, como pode ver, apenas lágrimas e tristeza”, lamenta Ludmila, de olhos rasos.

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