Correio da Manhã Weekend

O dilema ucraniano

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Jürgen Habermas, um dos mais influentes filósofos contemporâ­neos, nascido na Alemanha em 1929, escreveu um extenso artigo no ‘Süddeutsch­e Zeitung’. Vivemos num tempo em que é preciso ouvir quem saiba pensar para além do instante seguinte e da superfície das coisas, porque os erros terão um custo elevado. É urgente sobrepor aos tambores da guerra os esforços de paz de Guterres ou do Papa Francisco.

A questão de que Habermas parte (e também pode ser colocada em Portugal) é saber até onde pode ou deve ir a ajuda alemã. Habermas considera ilegítima a invasão russa, critica o pacifismo clássico, afirma que a Ucrânia tem o direito de se defender e conclui que o ‘Ocidente’ não

É URGENTE SOBREPOR AOS TAMBORES DA GUERRA OS ESFORÇOS DE PAZ

pode ficar de braços cruzados: tem o dever de a ajudar, até porque a situação se poderá repetir na Geórgia ou na Moldávia.

Depois de observar que PuA tin se arroga o direito de definir o que significa intervir, Habermas sustenta que não podemos arriscar um critério que gere o efeito de escalada. Manifesta a convicção de que, mesmo que fôssemos suficiente­mente cínicos para aceitar um conflito nuclear tático (com o sacrifício da Ucrânia), nada garantiria a não transição para um cenário apocalític­o em que ninguém venceria.

O dilema de Habermas, que apoia a política de Scholz, tem como termos a obrigação de ajudar um país invadido (incluindo o nível da defesa militar) e o dever de evitar uma guerra nuclear a todo o custo (sem aceitar a escravidão). É preciso insistir nas negociaçõe­s e aprovar um roteiro que envolva o cessar-fogo, a retirada das tropas invasoras e a criação de condições para uma paz justa e duradoura.n

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SEGUNDA OPINIÃO Rui Pereira Professor Universitá­rio

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