AMIGOS DE PAPELÃO
Afrase é uma tareia no conceito da amizade: “Houve pessoas que deixaram de falar comigo, outras que desapareceram da minha vida”. “Não aguentaram o peso das minhas lágrimas”. Judite de Sousa enterrou o filho, único filho. Será uma dor sem que haja outra dor igual. Só quem passou pela tragédia maior sabe da curva do fogo. Amigos, assim, ascendentes da onça não eram amigos. Era gente conhecida ou gente com o coração na sanita: “Os meus melhores amigos são estes jovens (amigos do filho). Porque muitos outros amigos, pessoas que me acompanhavam há 40 anos, voltaram-me as costas”. O esterco, ao lado deste tipo de pessoas, é um frasco de Channel. O que lhes passou pela moleira vazia para terem virado a cara e o lombo à desgraça da Judite? Não é blá-blá-blá poético: somos responsáveis pelos nossos amigos, na festa onde é fácil estar e sermos, e nas horas em que o chão foge e nunca mais regressa. Fugir é a saída daqueles que, afinal, nunca estiveram verdadeiramente, apenas picaram ponto numa espécie de corpo presente para jantares e festarolas. Em 2014, Judite de Sousa e o ex-marido Pedro Bessa, produtor da RTP Porto, levaram um filho para o cemitério. André não estava doente, não que a doença, alguma vez, pudesse trazer preparação para o que natureza não prepara pai e mãe. O jovem, de 29 anos, desequilibrou-se quando estava sentado à beira da piscina e, ao bater com a cabeça na pedra de uma cascata, sofreu uma fractura no tronco cerebral. Foi socorrido rapidamente, mas a pior notícia aconteceu no hospital. Judite de Sousa, na recente entrevista dada a Luís Manuel Goucha, comparou a perda de um filho como um eterno ‘naufrágio’. Afundada num mar terrível, soube, ainda assim, vir ao de cima para perpetuar a memória de André, criando uma bolsa de estudo com a Universidade Nova de Lisboa para apoiar alunos carenciados que queiram frequentar o mesmo mestrado do filho, Finanças.