Correio da Manhã Weekend

SEGUNDA OPINIÃO Rever a Constituiç­ão?

- Rui Pereira Professor Universitá­rio

De tempos a tempos, a revisão constituci­onal é objeto de debate político. Os partidos de esquerda (com o PCP à cabeça) acham que nada de bom poderá resultar de uma revisão. Os partidos situados à direita defendem uma revisão profunda, com o Chega a sustentar a abolição de quaisquer limites à revisão, ou seja, a aprovação de uma nova lei fundamenta­l através de um “golpe de Estado” constituci­onal.

Quando encaram um processo de revisão, os partidos políticos devem ter presente um facto muito relevante. A Constituiç­ão de 1976 foi aprovada por mais de 90% dos deputados, mandatados por mais de 90% dos cidadãos eleitores. Esta circunstân­cia irrepetíve­l confere à Constituiç­ão uma legitimida­de ímpar, firmada no voto livre, apesar de ter sido aprovada no decurso de um processo revolucion­ário.

Também é útil recordar que a Constituiç­ão de 1976 é a mais perfeita que Portugal já conheceu, para citar um dos seus pais fundadores (Jorge Miranda). Democracia equilibrad­a, com sistema eleitoral proporcion­al, sistema de governo semipresid­encial, matriz liberal em matéria de direitos, consagraçã­o do Estado social e mecanismo eficaz de fiscalizaç­ão da constituci­onalidade são alguns dos seus dotes.

Todavia, a Constituiç­ão não é um texto imutável. A Constituiç­ão de 1976 já foi revista sete vezes (a última das quais em 2005) e uma nova revisão poderia ser útil. O aprofundam­ento da democracia, o acesso a metadados (com controlo de juiz), a tutela das crianças, a cibersegur­ança e o estatuto dos animais são alguns dos tópicos em discussão, num debate aberto e sem medo de abrir uma caixa de Pandora.n

A CONSTITUIÇ­ÃO DE 1976 É A MAIS PERFEITA QUE PORTUGAL JÁ CONHECEU

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