Correio da Manhã Weekend

26 anos a refletir

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Amanhã encerra-se a temporada de 2021/2022. O fecho terá por palco o Estádio Nacional no Jamor. Ou, se preferirem, o Estádio Municipal de Oeiras que é como o expoente máximo da luta contra a “macrocefal­ia” da capital e do combate de inspiração regionalis­ta gosta de chamar ao recinto inaugurado por Salazar em 1944 numa tarde de sol. Estava a Europa em guerra e Portugal tão em paz que do céu, jogados de uma avioneta, caíram panfletos sobre as bancadas à pinha proclamand­o “o que nós queremos é futebol”. O nosso país mudou muito nas últimas oito décadas, mudou muito para muito melhor, mas se há coisa que não mudou assim tanto foi a máxima de que o que nós queremos é futebol. Basta estarmos atentos aos serviços noticiosos para entendermo­s como o futebol tem um peso absurdo na sociedade portuguesa, um peso que ultrapassa exponencia­lmente a dimensão de que o futebol usufruiu durante o Estado Novo. Amanhã joga-se a final da Taça de Portugal. Ai da nossa República e ai de Marcelo Rebelo de Sousa se o presidente não chegar da sua visita oficial a Timor-Leste a tempo de se sentar na tribuna do Jamor entre os presidente­s do FC Porto e do Tondela, os finalistas desta edição da amorosamen­te chamada “prova-rainha do futebol português”. A ausência do Presidente da República seria uma afronta à não tão amorosamen­te chamada “indústria do futebol”.

Se a equipa FC Porto, tal como se aguarda, fizer ao Tondela em campo aquilo que um grupo de adeptos seus fez nas instalaçõe­s do Tondela em tarde de assegurar bilhetes para a final da Taça não encontrará, por certo, qualquer tipo de obstáculo à conquista do troféu. Em julho, estes dois emblemas voltarão a encontrar-se para a disterna cussão da Supertaça e qualquer apostador cioso do seu investimen­to não terá dúvidas em colocar, uma vez mais, as fichas no campo azul e branco. Há coisas que não mudam no futebol e o peso do favoritism­o é uma delas.

Há, no entanto, outras coisas que não mudam e deviam mudar. Esta semana, o presidente da Liga visitou o ministro e o secretário de Estado da Administra­ção Ine ainda o secretário de Estado da Juventude e do Desporto e, ao sair da reunião, informou os jornalista­s sobre uma preocupaçã­o. “Devemos refletir sobre a facilidade com que a pirotecnia entra nos Estádios”, disse Proença. É incrível, de facto, o tempo que demoram estas reflexões no nosso país. Vinte e seis anos depois de um adepto ter sido morto no Jamor pelo arremesso de um engenho pirotécnic­o ainda andam os atuais responsáve­is pela organizaçã­o dos jogos da bola a solicitar tempo para reflexões sobre a matéria. Um quarto de século a parar para pensar. Não conseguem, pelos vistos, pensar e andar ao mesmo tempo. Que lástima.n

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