Correio da Manhã Weekend

“Quero voltar para aqui com a minha família”

DESTRUIÇÃO  A aldeia de Velyka Dymerka, nos arredores de Kharkiv, foi fortemente bombardead­a pelos russos DESESPERO  Habitação de Marina Starova foi destruída. Família ficou apenas com a roupa que tinha no corpo

- AURELIANA GOMES TEXTO PEDRO ESCOTO IMAGEM ENVIADOS ESPECIAIS UCRÂNIA

Não estávamos cá quando a nossa casa foi bombardead­a. Foram uns vizinhos que me alertaram. Quando cá chegamos estava tudo a arder, não havia nada a fazer.” Marina Starova, de 41 anos, morava com o marido, três filhos, dois deles menores, a mãe e a avó numa casa em Velyka Dymerka, uma aldeia de Saltofka, perto de Kharkiv. No dia em que a sua casa foi bombardead­a por três vezes teve a sorte de não estar lá, mas o desalento quando chegou e viu o esforço de uma vida destruído em segundos deixou-a sem chão.

“Senti-me muito mal. Chorei todo o dia. Só conseguiu acalmar-me no dia seguinte e com medicament­os”, lembrou ao CM a mulher de olhos verdes que teimam em chorar ao recordar o momento mais difícil porque passou em toda a vida. Marina e a família ficaram sem casa, ficaram sem nada, só com a roupa do corpo. Os filhos foram viver para outra região, mas ela decidiu ficar para tentar, sabe lá como, reconstrui­r o que os russos deitaram abaixo. “Estou a viver aqui ao lado, na casa de uns vizinhos. Até agora só pude contar com a ajuda deles”, disse. Apesar de na sua habitação não haver mais do que um monte de pedras e duas paredes ao alto, Marina tem esperança de um dia voltar a viver no espaço que construiu com o suor do seu trabalho. “Quero voltar para aqui com a minha família. Agora só precisamos de paz”, disse.

A história de Marina é igual à de tantas outras pessoas que perderam tudo numa guerra sem fim à vista. Uns quilómetro­s à frente, encontramo­s um agricultor que tenta levantar o armazém onde trabalhava, do qual pouco ou nada resta. De enxada na mão a tentar remendar o que dificilmen­te terá conserto, explicou que o ataque aconteceu na noite de cinco de março. “Lançaram um míssil e tudo isto ardeu. Este armazém e a casa ficaram destruídos. Eles fizeram muitos estragos”, desabafou o homem que espera agora restaurar o local que lhe dava o sustento antes da invasão. “Espero com o tempo restabelec­er-me e reconstrui­r este espaço”, explicou, dizendo, no entanto, que só o conseguirá fazer com ajuda. “Até agora ainda ninguém falou comigo. Já fiz um pedido, mas ainda não obtive resposta. Acredito que virão aqui, não sei é quando”, lamentou.n

“SENTI-ME MUITO MAL. CHOREI TODO O DIA”, CONTA MARINA

APOIO DOS VIZINHOS

TEM SIDO CRUCIAL PARA CONSEGUIR SOBREVIVER

 ?? ?? Marina Starova junto ao que resta da sua casa em Velyka Dymerka, Kharkiv
Marina Starova junto ao que resta da sua casa em Velyka Dymerka, Kharkiv
 ?? ?? Agricultor quer reconstrui­r armazém destruído pelos ataques russos
Agricultor quer reconstrui­r armazém destruído pelos ataques russos
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