“Quero voltar para aqui com a minha família”
DESTRUIÇÃO A aldeia de Velyka Dymerka, nos arredores de Kharkiv, foi fortemente bombardeada pelos russos DESESPERO Habitação de Marina Starova foi destruída. Família ficou apenas com a roupa que tinha no corpo
Não estávamos cá quando a nossa casa foi bombardeada. Foram uns vizinhos que me alertaram. Quando cá chegamos estava tudo a arder, não havia nada a fazer.” Marina Starova, de 41 anos, morava com o marido, três filhos, dois deles menores, a mãe e a avó numa casa em Velyka Dymerka, uma aldeia de Saltofka, perto de Kharkiv. No dia em que a sua casa foi bombardeada por três vezes teve a sorte de não estar lá, mas o desalento quando chegou e viu o esforço de uma vida destruído em segundos deixou-a sem chão.
“Senti-me muito mal. Chorei todo o dia. Só conseguiu acalmar-me no dia seguinte e com medicamentos”, lembrou ao CM a mulher de olhos verdes que teimam em chorar ao recordar o momento mais difícil porque passou em toda a vida. Marina e a família ficaram sem casa, ficaram sem nada, só com a roupa do corpo. Os filhos foram viver para outra região, mas ela decidiu ficar para tentar, sabe lá como, reconstruir o que os russos deitaram abaixo. “Estou a viver aqui ao lado, na casa de uns vizinhos. Até agora só pude contar com a ajuda deles”, disse. Apesar de na sua habitação não haver mais do que um monte de pedras e duas paredes ao alto, Marina tem esperança de um dia voltar a viver no espaço que construiu com o suor do seu trabalho. “Quero voltar para aqui com a minha família. Agora só precisamos de paz”, disse.
A história de Marina é igual à de tantas outras pessoas que perderam tudo numa guerra sem fim à vista. Uns quilómetros à frente, encontramos um agricultor que tenta levantar o armazém onde trabalhava, do qual pouco ou nada resta. De enxada na mão a tentar remendar o que dificilmente terá conserto, explicou que o ataque aconteceu na noite de cinco de março. “Lançaram um míssil e tudo isto ardeu. Este armazém e a casa ficaram destruídos. Eles fizeram muitos estragos”, desabafou o homem que espera agora restaurar o local que lhe dava o sustento antes da invasão. “Espero com o tempo restabelecer-me e reconstruir este espaço”, explicou, dizendo, no entanto, que só o conseguirá fazer com ajuda. “Até agora ainda ninguém falou comigo. Já fiz um pedido, mas ainda não obtive resposta. Acredito que virão aqui, não sei é quando”, lamentou.n
“SENTI-ME MUITO MAL. CHOREI TODO O DIA”, CONTA MARINA
APOIO DOS VIZINHOS
TEM SIDO CRUCIAL PARA CONSEGUIR SOBREVIVER