Correio da Manhã Weekend

Guerra, pão e rebuçados

- VICTOR BANDARRA, JORNALISTA

“A fome é uma das armas mais antigas do mundo”

Oque é que a guerra na Ucrânia temavercom­osrebuçado­sDr. Bayard?Temmuito.Aglucose demilhocom­quesefabri­cam éimportada­doLeste,sobretudo da Ucrânia. Os russos cercam os portos do mar Negro e a Ucrânia não está a conseguir exportar os seus cereais. Pior, dramático, pode ser a falta de pão, no sentido mais profundo e ancestral de ‘Pão’. Porque isto anda tudo ligado, a falta de cereais pode provocar uma crise alimentar mundial. Porque a fome é uma das armas mais antigas do mundo. E porque, em todas as guerras, cercar e destruir o inimigo pela fome foi sempre um objectivo, da Ucrânia de Estaline à Síria de Assad. Russos e ucranianos sabem isso muito bem. Velhos ucranianos vivos recordam-se dos trágicos tempos estalinist­as do ‘Holodomor’, que significa “matar pela fome”. Calcula-se que, em 1932/33, morreram de fome 4,5 milhões de ucranianos.

Segundo uma parábola da meteorolog­ia, o bater de asas de uma borboleta no Cabo da Roca pode provocar uma tempestade em Vladivosto­k. O mesmo se passa com o pão, sempre o pão. Não há colheita de cereais na Ucrânia, morrem à fome milhares de africanos e asiáticos. Guterres, bem como o PAM (Plano Alimentar Mundial) alertam os países e o mundo, mas o desesperad­o bater de asas da borboleta ucraniana ainda não chegou em força ao outro lado do mundo. Por cá, o pão não falta mas as carteiras vão ficando mais leves. Ainda ninguém foi apanhado a surripiar pão num supermerca­do português, mas roubar cereais pode tornar-se um hábito. Um navio russo carregado de cereais roubados na Ucrânia já foi detectado no porto sírio de Latakia.

Esta semana, às voltas com o seu ‘galão’ e tosta mista, Dona Fernanda abespinha-se com a dona do café. “A tosta já está mais cara! Vou é deixar de vir lanchar aqui!” À saída, puxa do seu rebuçadinh­o do Dr. Bayard e solta um suspiro. “Pelo menos estes ainda não subiram de preço!” Ignora D. Fernanda que a tempestade está a formar-se e que até os rebuçados hão-de ressentir-se.

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