O nosso buraco negro
Os astrofísicos gostam de dar nomes divertidos às coisas fantásticas que encontram nos céus. Buracos negros são “monstros” cósmicos: sítios do Universo para onde tudo pode entrar e de onde nada pode sair, onde o espaço e o tempo acabam e, portanto, onde termina a nossa possibilidade de compreensão.
Sabemos que o núcleo que resta da explosão de uma estrela superpesada (a explosão chama-se supernova) será um buraco negro se tiver uma massa maior do que três vezes a massa do Sol. E também sabemos que há, no centro de cada galáxia (provavelmente de todas), um buraco negro supermaciço, cuja massa poderá ser milhões de vezes maior do que a do Sol. Ainda não sabemos bem como é que eles se formam. No centro da nossa galáxia, a Via Láctea, também há um desses monstros: a sua massa é quatro milhões de vezes maior do que a da nossa estrela.
O Prémio Nobel da Física de 2020 foi dado a dois astrofísicos, um alemão e uma americana, que observaram as órbitas de estrelas que giram muito rapidamente em torno desse buraco negro, denominado Sagitário A*. A nossa estrela e as suas inúmeras companheiras da Galáxia têm um movimento de carrossel em torno de Sagitário A*, tal como a Terra e os outros planetas do sistema solar têm um movimento de carrossel em torno do Sol. É como se o Sagitário A*, que está a 27 000 anos-luz de nós, fosse o Sol do nosso Sol!
Uma grande colaboração global de radioastrónomos revelou há dias uma imagem espantosa: a sombra do Sagitário A* é a região escura no meio de um anel luminoso formado por gás emissor de ondas de rádio. É a segunda imagem de um buraco negro registada por essa equipa. Da primeira vez, em 2019, a imagem foi do M87*, no centro da galáxia M87, a uns estonteantes 53 milhões de anos-luz da Via Láctea. A sua massa é mil vezes a de Sagitário A*. Agora tirámos o retrato ao nosso buraco negro.
“No centro da nossa galáxia também há um desses monstros”