Correio da Manhã Weekend

Áudios do VAR: uma caixa de Pandora

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Num mundo perfeito, o acesso dos clubes aos áudios das conversas entre árbitros e VAR nada teria de extraordin­ário e configurar­ia até uma boa notícia. Seria aceite de bom grado por quem (supostamen­te) nada teria a temer, e a esse material haveria de ser dado bom uso, sempre em prol da verdade, da transparên­cia e da melhoria do espetáculo. Mas todos sabemos que o futebol, e quando falamos de futebol falamos do futebol português, está longe de ser um mundo perfeito.

Desde logo, ficando na posse dos registos das conversas dos árbitros, ou apenas tendo acesso a elas, aos clubes estaria a ser fornecida uma poderosa (e perigosa) arma de arremesso. Ao invés de clarear situações nebulosas, os áudios seriam utilizados como pólvora para os canhões dos departamen­tos

AO CHUMBAR

A PROPOSTA, CLUBES TIVERAM NOÇÃO DAS

SUAS LIMITAÇÕES

de informação. Já estamos a imaginar os boletins, as newsletter­s e os comunicado­s, salpicados de detalhes usados seletivame­nte em proveito próprio, numa escalada de incendiári­as acusações. Depois, há ainda outro aspeto. Sabendo, a jusante da questão, que as suas conversas iriam ser alvo um novo tipo de escrutínio, os árbitros e os VAR passariam a ter outros comportame­ntos, muito mais ‘de fachada’, digamos assim. E, como tal, as suas intervençõ­es (nas conversas e até no campo) correriam sérios riscos de ficar fortemente condiciona­das.

Ao chumbar a proposta do Sporting, esta semana, os clubes tiveram a noção da caixa de Pandora que estariam a abrir, com o avanço da medida. E também das suas limitações, no tal contexto do mundo perfeito. Pode ser que um dia se chegue lá.n

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