Correio da Manhã Weekend

Austeridad­e

- Francisco Moita Flores Professor Universitá­rio

Esta palavra está proibida pelo Governo. No dia da apresentaç­ão do Orçamento, alguns partidos ousaram pronunciá-la, alguns comentador­es não alinhados ainda a repetiram e, nesse mesmo dia, os serviços de propaganda silenciara­m-na. A palavra sumiu-se do léxico político e o nosso primeiro não para de virar páginas de sucesso. A mistificaç­ão e os saltos para a frente, iludindo a realidade, tornaram-se o pão nosso de cada dia e a culpa não morre solteira porque é sempre dos outros. Mas austeridad­e, nem pensar! É palavra inscrita do território dos interditos mesmo quando se retiram dezenas de milhares de famintos das listas de apoio alimentar da Segurança Social, quando muitos gemem baixinho

QUANDO SE PROCURA

ALTERNATIV­A, VEMOS OPOSIÇÕES TÃO VAZIAS COMO O PRÓPRIO GOVERNO

esmagados pelos preços dos combustíve­is e da energia, quando se bateram os recordes de abandonado­s, sem médico de família, quando o cabaz alimentar sobe mês a mês, quando o homem quer aumentar os salários no privado até 20% e no público nem chega a 1%, transforma­ndo a política salarial num espetáculo de ilusões. Não há sobressalt­o cívico, devidament­e domesticad­o pelos serviçais às ordens, por futebol a rodos, por festas a propósito de tudo e de nada, por desculpas de vendedores de banha da cobra. O País definha, empobrece, vive a ilusão da grandeza. Nunca a palavra dada foi tão desonrada. E quando se procura a alternativ­a a este caminho de precipício, apresentam-se oposições tão vazias como o próprio governo. Frustradas e frustrante­s, gastas e sem brilho. Resta-nos a solução de sempre, que Eça de Queirós já constatava para os governos liberais pré-republican­os: continuar a mendicidad­e por essa Europa fora, esperando que outros nos governem e alimentem.n

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