Austeridade
Esta palavra está proibida pelo Governo. No dia da apresentação do Orçamento, alguns partidos ousaram pronunciá-la, alguns comentadores não alinhados ainda a repetiram e, nesse mesmo dia, os serviços de propaganda silenciaram-na. A palavra sumiu-se do léxico político e o nosso primeiro não para de virar páginas de sucesso. A mistificação e os saltos para a frente, iludindo a realidade, tornaram-se o pão nosso de cada dia e a culpa não morre solteira porque é sempre dos outros. Mas austeridade, nem pensar! É palavra inscrita do território dos interditos mesmo quando se retiram dezenas de milhares de famintos das listas de apoio alimentar da Segurança Social, quando muitos gemem baixinho
QUANDO SE PROCURA
ALTERNATIVA, VEMOS OPOSIÇÕES TÃO VAZIAS COMO O PRÓPRIO GOVERNO
esmagados pelos preços dos combustíveis e da energia, quando se bateram os recordes de abandonados, sem médico de família, quando o cabaz alimentar sobe mês a mês, quando o homem quer aumentar os salários no privado até 20% e no público nem chega a 1%, transformando a política salarial num espetáculo de ilusões. Não há sobressalto cívico, devidamente domesticado pelos serviçais às ordens, por futebol a rodos, por festas a propósito de tudo e de nada, por desculpas de vendedores de banha da cobra. O País definha, empobrece, vive a ilusão da grandeza. Nunca a palavra dada foi tão desonrada. E quando se procura a alternativa a este caminho de precipício, apresentam-se oposições tão vazias como o próprio governo. Frustradas e frustrantes, gastas e sem brilho. Resta-nos a solução de sempre, que Eça de Queirós já constatava para os governos liberais pré-republicanos: continuar a mendicidade por essa Europa fora, esperando que outros nos governem e alimentem.n