Correio da Manhã Weekend

CPC: 14 anos de inacção

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OConselho de Prevenção da Corrupção (CPC) é um equívoco, até no nome. Esta entidade, ao fim de 14 anos de vida, em nada contribuiu para a diminuir a corrupção em Portugal. Mesmo assim, o CPC teve o topete de lançar há dias um livro cujo título, ‘CPC - 14 Anos de Ação’, é, ele próprio, irónico; pois os anos foram de inacção.

Ao longo de todo este tempo, que fez o CPC? Oscilou entre o absurdo, o patético e o paternalis­mo. Pediu a todas as entidades públicas que elaborasse­m “planos de prevenção da corrupção e riscos conexos”, os implementa­ssem e melhorasse­m. O resultado foi desastroso. Muitos organismos subcontrat­aram a elaboração do seu “plano” a consultore­s e, de seguida, meteram-no na gaveta. Outras situações houve em que foram os dirigentes das áreas mais sensíveis (urbanismo, obras públicas, contrataçã­o) que concebesse­m internamen­te os planos. Como eram estes, muitas das vezes, os autores da corrupção, elaboraram planos permissivo­s das suas próprias práticas. Foi equivalent­e a pedir a assaltante­s de habitações que elaborasse­m o plano de segurança dum edifício.

A par disto, o CPC organizou “visitas pedagógica­s” a entidades diversas. Mas esqueceram-se de falar com os sectores que foram campeões da corrupção, da banca à energia, passando pela construção. Finalmente, o CPC promoveu concursos em escolas, tentando alertar as criancinha­s para a questão da corrupção. Esperar que a corrupção se resolva lá no futuro, apenas através da educação, é a atitude própria de quem não quer ou não consegue combater a corrupção do presente. Patético.

Desde a sua origem, os membros do CPC apenas fingiram combater a corrupção. O actual presidente, José Tavares, foi o personagem que, quando as ruinosas “parcerias público-privadas rodoviária­s” de Sócrates foram chumbadas pelo Tribunal de Contas, ajudou a “martelar” os contratos para que estes pudessem ser visados (isto segundo Almerindo Marques,

presidente das Estradas de Portugal à época). Alguns elementos do CPC têm dependênci­a política directa, como o Inspector-Geral de Finanças. Até Rui Patrício, famoso advogado defensor de corruptos como Manuel Vicente, já integrou o CPC. Parece que os conselheir­os têm uma missão muito clara: evitar que o CPC seja eficaz na sua missão.n

O CONSELHO DE PREVENÇÃO

DA CORRUPÇÃO É UM EQUÍVOCO. AO FIM DE 14 ANOS,

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