Correio da Manhã Weekend

Salvo pela febre

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Se Jorge Miranda denunciou um problema grave, que assola a academia e se propaga pela sociedade, Marcelo escolheu o 10 de Junho para fazer o mais vazio dos seus discursos presidenci­ais. Com uma distorção grave – deu à palavra povo o sentido medieval de arraia miúda, quando dita a Constituiç­ão, artº 3º, nº 1, que o Povo é quem exerce a soberania, una e indivisíve­l.

Se ainda é permitida ironia, diria que, como os membros das elites mantêm o seu direito de voto, por mais elitistas que sejam ou se sintam, são também Povo, como o define a Constituiç­ão.

Marcelo repetiu povo e mais povo, num sentido caduco desde 1910. Foi penoso ouvir.

No remanso do lar, acometido por febres, Costa poupou-se ao calor de Braga e à vacuidade do discurso presidenci­al. E escapou à vergonha que seria um plano do primeiro-ministro, quando Jorge Miranda apontou o dedo aos erros de português no jornalismo, nas faculdades, mesmo ao nível dos corpos docentes.

Se o grande Professor Jorge Miranda tivesse juntado o universo político ao dos prevaricad­ores, Costa seria um dos alvos, com os seus constantes atropelos do verbo ‘haver’. Que não aceita plural, apesar do primeiro-ministro forçar uma mudança nas regras, com o uso de múltiplos ‘houveram’ e ‘haverão’.

A defesa da Língua faz-se pela exigência no cumpriment­o das suas normas.

Com elites que as ignoram, como poderá o povo de Marcelo cumpri-las?n

MARCELO REPETIU POVO E MAIS POVO,

NUM SENTIDO CADUCO DESDE 1910

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