Correio da Manhã Weekend

85% das mortes por afogamento são evitáveis

TRAGÉDIA  Já morreram 57 pessoas este ano, a maioria em locais não vigiados do Interior, como rios e barragens SEGURANÇA  Federação de Nadadores-Salvadores diz que falta cultura de segurança aquática

- MANUELA GUERREIRO*

Ocalor convida a banhos, mas há mergulhos que podem acabar em tragédia. Foi o que aconteceu nos últimos sete dias, a Maria, Flávio, Armando, Afonso e Manuel. Mergulhara­m e não voltaram. São os últimos cinco nomes de uma longa lista. Só este ano já perderam a vida em meio aquático 57 pessoas, o número mais elevado do últimos cinco anos. A nível mundial, a cada minuto e meio há uma morte por afogamento.

A vítima mais recente em Portugal é Manuel da Rola, de 55 anos, cujo corpo foi ontem recolhido na Barragem do Sordo, em Parada de Cunhos, Vila Real. O cadáver foi localizado pelo drone dos Bombeiros Voluntário­s da Cruz Branca. Já o jovem de 23 anos que foi arrastado pela corrente, no dia 13, na praia de Paredes da Vitória, zona não vigiada no concelho de Alcobaça, continuava ontem desapareci­do.

“As pessoas têm de perceber que a regra mais básica de todas é frequentar locais vigiados.” É desta forma que Alexandre Tadeia, presidente da Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores alerta para a fatalidade dos afogamento­s. E porquê? “Porque se morre mais em locais não vigiados, no Interior, do que no Litoral - em rios, barragens, poços, piscinas, tanques, valas, lagos. E morre-se muito mais fora dos meses de verão do que durante a época balnear.”

“Cerca de 85% dos afogamento­s têm prevenção. Só 15% não são possível prevenir”, diz Alexandre Tadeia, adiantando que a falta de uma cultura de segurança aquática justifica a maioria dos casos. “Quando temos de entrar na água para salvar alguém é porque a prevenção

REGRA MAIS BÁSICA É FREQUENTAR LOCAIS VIGIADOS

A CADA MINUTO E MEIO HÁ UMA MORTE POR AFOGAMENTO NO MUNDO

já falhou. As pessoas desconhece­m os perigos e os conselhos de segurança. Não podemos esperar que os portuguese­s tenham uma correta cultura de segurança aquática se, em 12 em anos de escolarida­de, só duas páginas dos manuais, na 2ª classe, falam no tema.”

Como o melhor exemplo a seguir, Alexandre Tadeia cita a Noruega, onde se ensina a nadar no primeiro ciclo; no segundo aprende-se segurança aquática, no terceiro salvamento

Cerca de cinco mil pessoas estão certificad­as como nadador-salvador, mas nem todos estão ao serviço. Segundo Alexandre Tadeia, faltam incentivos para que estes socorrista­s, a maioria estudantes, que têm de fazer 60 a 65 horas de trabalho por semana, regressem no ano seguinte.

aquático e no secundário ensinam-se primeiros socorros.

As mortes ocorridas no mar , por exemplo, são sobretudo de pessoas que estavam a tomar banho ou a passear junto à água e que foram arrastadas. Os casos mais complicado­s, explica o presidente da Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores “são os que sabem nadar, os chamados nadadores de dez metros, aqueles que nadam cinco ou dez metros e acaba-se o combustíve­l. A maioria dos portuguese­s pensa que sabe nadar, mas tem pouca condição física. Avança uns metros, mas depois há uma onda ou uma corrente que os empurra e já não conseguem”.n

 ?? ?? 2
2
 ?? ?? Buscas por Manuel da Rola, na Barragem do Sordo, em Vila Real. Corpo foi localizado com a ajuda de um drone dos bombeiros
Buscas por Manuel da Rola, na Barragem do Sordo, em Vila Real. Corpo foi localizado com a ajuda de um drone dos bombeiros
 ?? ??
 ?? ?? 1
Só na última
semana morreram afogadas cinco pessoas, elevando para 57 o número de vítimas em meio aquático este ano
2
1
Marinha
e Força Aérea ajudam nas buscas por desapareci­dos
no mar
1 Só na última semana morreram afogadas cinco pessoas, elevando para 57 o número de vítimas em meio aquático este ano 2 1 Marinha e Força Aérea ajudam nas buscas por desapareci­dos no mar
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal