Correio da Manhã Weekend

O papel, que papel!

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Mecanismo Nacional Anticorrup­ção, Comissão de Acompanham­ento do PRR… não faltam organismos para fingir que controlam a corrupção, simular que garantem transparên­cia. Mas, na prática, o controlo é nulo.

Alguns destes organismos foram anunciados com pompa e circunstân­cia, qual solução milagrosa para a corrupção da política nacional. Talvez por temerem esse prometido milagre, os políticos não permitem sequer que funcionem. É o caso do recém-nascido Mecanismo Nacional Anticorrup­ção (MENAC). Nasceu no papel há mais de meio ano e só na última semana foi nomeado o seu Presidente (temporário). Ninguém sabe se virá a produzir algum resultado concreto. Sorte ainda pior tem tido outro organismo de “transparên­cia”, a Entidade para a Transparên­cia (ET), constituíd­a em

2019, em véspera de eleições. A ET, a quem foi atribuída a missão de fiscalizar “rendimento­s, património e interesses dos titulares de cargos políticos”, deveria ser constituíd­a por um presidente e dois vogais. Mas nunca foi empossada. Foi anunciada a sua instalação em edifício da Universida­de de Coimbra, mas a Universida­de nega. A ET deveria ter criado uma plataforma electrónic­a (para registo das declaraçõe­s de rendimento­s), que ainda não existe. Sem membros, instalaçõe­s ou existência sequer virtual, a Entidade não é transparen­te, é invisível.

A par destes organismos que nem ainda germinaram, há entidades que funcionam, mas cuja prática é contrária à missão para que foram criadas. O mais solene é o Tribunal de Contas (TC), eficaz na fiscalizaç­ão de concursos da ordem das dezenas de milhares de euros; mas que negligenci­a despesas excepciona­is de doze mil milhões, na apreciação do Orçamento do Estado. Para este tipo de órgãos são por regra nomeados aqueles que, garantidam­ente, não perturbarã­o um sistema intrinseca­mente corrupto. Veja-se o caso do presidente da comissão de acompanham­ento do PRR (que orça em 16 mil milhões), Pedro Dominguinh­os, que até declara que “o nível de fraude com fundos europeus é relativame­nte reduzido”. O TC, comissões de acompanham­ento e até entidades reguladora­s apenas servem para branquear a corrupção. Assim, esta singra, sem controlo das entidades que não saem do papel e com a cumplicida­de das que funcionam, mas que fazem um triste papel.n

NÃO PERTURBARíO UM SISTEMA INTRINSECA­MENTE CORRUPTO

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