Correio da Manhã Weekend

DISFUNÇÃO ELEITORAL

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As eleições legislativ­as à porta preocupam um prazer antigo. Estão a matá-lo devagar e é a morte pelo caminho que nenhum homem sorri. O motor parou. Não descola do lugar. Nem de empurrão. Nem a rezar. O medo de perder o fio do tacho dá-lhe cabo do cabo, outrora rijo como o aço puro. Agora, coitado, sim, coitado, é de ter pena de uma criatura que de Tarzan passa a passarinho, só lhe sobra o efeito do refrigeran­te, e, ainda assim, sai-lhe gelo. Eu, com a minha paciência, dou-lhe alento e também inspiração direta para que o gás lhe suba. Quanto mais a data se aproxima, menos capaz está. Só para termos ideia, na última sessão, até o comprimido da cor do céu havia colocado na boca antes de chegar. Esperámos, deitados, depois sentados, para que fizesse efeito. Nada. O pouco que conseguiu não foi o suficiente para, sequer, se iniciar. O desespero era tamanho que o homem

COM A MINHA PACIÊNCIA, DOU-LHE ALENTO E TAMBÉM INSPIRAÇÃO DIRETA PARA QUE O GÁS LHE SUBA

queria engolir o segundo remédio. Demovi-o. O abono não faz a rima da canção da Manuela Bravo, mas pode dar trabalho a funerárias. É, caros leitores, outros enterros, belos e metafórico­s, este prazer protagoniz­ou antes da queda do governo. A dissolução da Assembleia da República dissolveu-lhe o instrument­o. O medo de ter que ir à vida como todos os cidadãos abafou-lhe o pífaro. Habituado à fartura grossa, neste momento, o tamanho e a qualidade diminuíram, aliás, o bico do galo só aponta para as meias. Parece engasgado, e não me refiro à garganta. Começa da pior maneira; pensa que o gatilho dispara sem dó e sem piedade. A pensar, um burro finou-se. Zero, como uma múmia, pólvora seca a lembrar leite em pó. Diz, com raiva e de cuecas subidas, pois a viola entrou no saco, que o que lhe acontece é uma praga dos partidos contrários ao seu. É, é. Deve-se pôr literalmen­te a pau no caso de perder a corrida eleitoral.

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