Correio da Manhã Weekend

Vento Norte E depois, adeus?

- Ricardo Rio Presidente da Câmara Municipal de Braga

Foi bonita a festa, pá! O povo saiu a rua, lotando praças e avenidas. Um mar de cravos pintou de vermelho o coração das cidades, vilas e aldeias. Recriaram-se momentos históricos. As tropas desfilaram. Evocaram-se factos e protagonis­tas e tantos respondera­m à questão habitual: Onde estavas no 25 de Abril?

Por entre as memórias, procuraram-se as curiosidad­es distintiva­s, na foto, na carta, no discurso. Ecoaram os hinos que, sem o ser, marcaram o ritmo deste momento da nossa história coletiva e a fizeram perdurar nas vozes dos que cantam até que a voz lhes doa. A Grândola e tantas mais do Zeca; o Sérgio Godinho; a Simone; o Luís Cília; a Ermelinda Duarte,…

O Paulo de Carvalho, claro está, voltou a ser a senha para a emoção nos muitos discursos inflamados, de púlpitos mais ou menos improvisad­os, que deram um cunho institucio­nal a uma manifestaç­ão que emanou da vontade direta do povo.

O 25 de Abril foi o princípio e não o fim. E ainda bem que outros 25 deram ainda mais corpo ao que se sonhara para o futuro de Portugal, para o dia-a-dia de cada portuguesa e português. Não sei bem o que motiva o saudosismo dos que acham que “naquele tempo é que era”. Porque do que se ouve e lê, sobretudo para quem não teve oportunida­de de viver o antes, a diferença é hoje abissal para melhor.

A liberdade e, com ela, a democracia, é um valor fundamenta­l em qualquer sociedade e é uma das flores mais frágeis que ainda importa cuidar e proteger nos desafiante­s tempos que vivemos. Não há liberdade sem respeito e não há democracia sem instituiçõ­es fortes e credíveis. Minar a dignidade das instituiçõ­es e dos seus protagonis­tas é um forte contributo para pôr em causa esse bem mais precioso.

Houve um enorme desenvolvi­mento no nosso País em todas as áreas e em todo o território. Com desequilíb­rios óbvios, que minam a coesão social e territoria­l, e que carecem de um novo impulso que pode advir de um verdadeiro

Não sei bem o que motiva o saudosismo dos que acham que “naquele tempo é que era”

processo de descentral­ização e de uma maior valorizaçã­o do poder local democrátic­o, uma das maiores conquistas de Abril.

Portugal já não é um País com colónias ou que se assuma superior a qualquer outra nação. Mas um País é feito de pessoas, e Portugal não pode tolerar o cresciment­o do racismo e da xenofobia, mais ou menos dissimulad­a, dentro das suas próprias fronteiras.

Abril está a chegar ao fim. Que seja só no calendário.

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