Vento Norte E depois, adeus?
Foi bonita a festa, pá! O povo saiu a rua, lotando praças e avenidas. Um mar de cravos pintou de vermelho o coração das cidades, vilas e aldeias. Recriaram-se momentos históricos. As tropas desfilaram. Evocaram-se factos e protagonistas e tantos responderam à questão habitual: Onde estavas no 25 de Abril?
Por entre as memórias, procuraram-se as curiosidades distintivas, na foto, na carta, no discurso. Ecoaram os hinos que, sem o ser, marcaram o ritmo deste momento da nossa história coletiva e a fizeram perdurar nas vozes dos que cantam até que a voz lhes doa. A Grândola e tantas mais do Zeca; o Sérgio Godinho; a Simone; o Luís Cília; a Ermelinda Duarte,…
O Paulo de Carvalho, claro está, voltou a ser a senha para a emoção nos muitos discursos inflamados, de púlpitos mais ou menos improvisados, que deram um cunho institucional a uma manifestação que emanou da vontade direta do povo.
O 25 de Abril foi o princípio e não o fim. E ainda bem que outros 25 deram ainda mais corpo ao que se sonhara para o futuro de Portugal, para o dia-a-dia de cada portuguesa e português. Não sei bem o que motiva o saudosismo dos que acham que “naquele tempo é que era”. Porque do que se ouve e lê, sobretudo para quem não teve oportunidade de viver o antes, a diferença é hoje abissal para melhor.
A liberdade e, com ela, a democracia, é um valor fundamental em qualquer sociedade e é uma das flores mais frágeis que ainda importa cuidar e proteger nos desafiantes tempos que vivemos. Não há liberdade sem respeito e não há democracia sem instituições fortes e credíveis. Minar a dignidade das instituições e dos seus protagonistas é um forte contributo para pôr em causa esse bem mais precioso.
Houve um enorme desenvolvimento no nosso País em todas as áreas e em todo o território. Com desequilíbrios óbvios, que minam a coesão social e territorial, e que carecem de um novo impulso que pode advir de um verdadeiro
Não sei bem o que motiva o saudosismo dos que acham que “naquele tempo é que era”
processo de descentralização e de uma maior valorização do poder local democrático, uma das maiores conquistas de Abril.
Portugal já não é um País com colónias ou que se assuma superior a qualquer outra nação. Mas um País é feito de pessoas, e Portugal não pode tolerar o crescimento do racismo e da xenofobia, mais ou menos dissimulada, dentro das suas próprias fronteiras.
Abril está a chegar ao fim. Que seja só no calendário.