Coação, castigos, tortura e morte. Era assim a PIDE
Numa entrevista concedida em 1932 ao jornalista António Ferro, que o questionara sobre maus-tratos levados a cabo pela polícia política, Oliveira Salazar declarou ter-se chegado “à conclusão de que as pessoas maltratadas eram sempre, ou quase sempre, temíveis bombistas” que “só diziam a verdade” depois de a polícia “empregar esses meios violentos”. Este episódio foi lembrado pela historiadora Irene Flunser Pimentel no livro ‘O essencial sobre a PIDE’ (Ed. Imprensa Nacional). O primeiro nome da polícia política do governo de Salazar foi PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), que resultou da fusão, em 1933, entre a PDPS (Polícia de Defesa Político-Social), com função de vigilância político-social sobre os nacionais, e a PIP, que vigiava as fronteiras e os estrangeiros. Em 1945, após a II Guerra Mundial, foi substituída pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) que, tal como a antecessora, tinha como principal função a repressão política daqueles que o regime de Salazar (e mais tarde Caetano, já como DGS - Direção Geral de Segurança, a partir de 1969) considerasse opositores ou inimigos. A PIDE teve inúmeros mecanismos repressivos, com que justificava o exercício legal da violência pelo Estado, além de plenos poderes e uma autonomia praticamente total para prender, torturar, arrancar confissões e até matar. O uso da tortura nos interrogatórios era prática corrente. A tortura do sono (impedir os presos de dormir), da estátua (manter os presos em posição de Cristo) e as agressões diretas com cigarros ou usando choques elétricos eram as mais relatadas pelos presos.