As vantagens de Moledo
“Não tem quase nada do que o eleitorado maioritariamente prefere”
Estesprimeirosdiasdesol,muito tépidos e alegres, puseram Dona Elaine (a incansável governanta deste eremitério de Moledo) em estado de alerta porque são uma espécie de prenúncio do Verão, quando os meus sobrinhos transformam a casa num misto de albergue, hotel de província e aquartelamento a que só o seu génio de minhota severa consegue emprestar alguma ordem. Todos os anos, pontualmente, ela inaugura o mês de Maio com a promessa e a ameaça de estabelecer uma ditadura para meter a família na ordem.
No domingo, enquanto se tratava do assunto e se folheava o calendário, recebemos a visita da Dra. Teresa, a minha médica de Venade, e do marido, que tinham ido passar um dia de sol a Baiona e nos trouxeram uma sacolinha de espargos-do-mar apanhados nas dunas depois da temporada das chuvas. Dona Ester, minha mãe, gostava muito de Baiona, que foi uma estância balnear muito frequentada pelos Homem quando a Galiza não estava “na moda” e as famílias ricas do Porto já começavam a atravessar o País rumo ao Algarve para se encontrarem umas com as outras, mostrarem as ‘toilettes’ da época e democratizarem-se debaixo daquele sol meridional.
Pelo contrário, Moledo não é uma praia democrática. A sua água fria, o vento cortante e áspero do crepúsculo, a ondulação agreste do mar, a neblina que a transforma numa rampa de areia – tudo concorre para afastar veraneantes que não querem ir agasalhados para o areal. Moledo não tem quase nada do que o eleitorado maioritariamente prefere. É a nossa segurança. Os borrelhos-de-coleira-interrompida continuam a saltitar nos pinhais, mas ninguém os reconhece – e, se eu não esclarecesse que se trata de um pássaro, os meus benevolentes leitores passariam em frente, convencidos de estarem diante de um problema ortográfico. Ainda há uma esplanada que serve Água de Melgaço. Ainda há espargos-do-mar. O monte de Santa Tecla não desapareceu. Choverá em breve.