Os meninos da gruta
É pouca toda a imaginação que tente aproximar-se da aflição que na Tailândia passaram doze crianças e o seu mestre, encurralados numa gruta sem qualquer promessa de serem libertos. Devem ter perguntado pela força que os poderia salvar. Com o tempo, novos dados clarificarão o que se passou dentro da desesperança de cada um que sentia a morte aproximar-se vorazmente - como um dia se aproximará de cada um de nós. No momento do resgate, Deus foi lembrado como Alguém que todos reclamam, embora com expressões desconexas numa aflição extrema. Esse momento é sublime e terrível porque de maneira fulminante nos abraça toda a escuridão e toda a claridade. Oferece, ao mesmo tempo, uma serenidade indizível e uma comunhão única com o Além. Já todos passámos por algo de semelhante embora em circunstâncias diferentes. Mas os meninos da gruta experimentaram, em situação extrema, a impotência humana perante um fenómeno que se repete de múltiplas formas em milhares de sítios, mas que nos deixa a sensação de todo o universo cair sobre nós. E que só Deus nos pode valer.
Certamente que o problema de Deus não surge neste momento formalizado com argumentos filosóficos nem com esquemas de teses teológicas. Fechou-se uma porta com tal violência que não deixa promessa clara de se voltar a abrir. Aí o ser humano se sente cercado, despojado de qualquer lampejo de esperança, apenas ‘triturado pela angústia’. Esse momento, por breve que seja, é de fé, tem dimensões de eternidade e peso incomensurável. O homem sente-se reduzido ao mais ínfimo dos seres e nada se compara à sua infelicidade. Mas tocando o seu nada toca o infinito. Não será o melhor momento para perguntar por Deus ou até pedir o Seu auxílio. Mas nenhum ser se sente dispensado de ligar a Esse Infinito cujo nome desconhece ou porventura teve, na sua existência, como principal protetor ou até adversário. Não somos nós que escolhemos o dia ou a hora.
O HOMEM SENTE-SE
REDUZIDO AO MAIS
ÍNFIMO DOS SERES E NADA SE COMPARA À SUA INFELICIDADE