Correio da Manha

Os meninos da gruta

- António Rego Padre

É pouca toda a imaginação que tente aproximar-se da aflição que na Tailândia passaram doze crianças e o seu mestre, encurralad­os numa gruta sem qualquer promessa de serem libertos. Devem ter perguntado pela força que os poderia salvar. Com o tempo, novos dados clarificar­ão o que se passou dentro da desesperan­ça de cada um que sentia a morte aproximar-se vorazmente - como um dia se aproximará de cada um de nós. No momento do resgate, Deus foi lembrado como Alguém que todos reclamam, embora com expressões desconexas numa aflição extrema. Esse momento é sublime e terrível porque de maneira fulminante nos abraça toda a escuridão e toda a claridade. Oferece, ao mesmo tempo, uma serenidade indizível e uma comunhão única com o Além. Já todos passámos por algo de semelhante embora em circunstân­cias diferentes. Mas os meninos da gruta experiment­aram, em situação extrema, a impotência humana perante um fenómeno que se repete de múltiplas formas em milhares de sítios, mas que nos deixa a sensação de todo o universo cair sobre nós. E que só Deus nos pode valer.

Certamente que o problema de Deus não surge neste momento formalizad­o com argumentos filosófico­s nem com esquemas de teses teológicas. Fechou-se uma porta com tal violência que não deixa promessa clara de se voltar a abrir. Aí o ser humano se sente cercado, despojado de qualquer lampejo de esperança, apenas ‘triturado pela angústia’. Esse momento, por breve que seja, é de fé, tem dimensões de eternidade e peso incomensur­ável. O homem sente-se reduzido ao mais ínfimo dos seres e nada se compara à sua infelicida­de. Mas tocando o seu nada toca o infinito. Não será o melhor momento para perguntar por Deus ou até pedir o Seu auxílio. Mas nenhum ser se sente dispensado de ligar a Esse Infinito cujo nome desconhece ou porventura teve, na sua existência, como principal protetor ou até adversário. Não somos nós que escolhemos o dia ou a hora.

O HOMEM SENTE-SE

REDUZIDO AO MAIS

ÍNFIMO DOS SERES E NADA SE COMPARA À SUA INFELICIDA­DE

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