Internet boa e internet má
Em 30 anos de existência, a internet mudou as nossas vidas - e eu diria para melhor. Permitiu-nos avançar na ciência, melhorou os nossos serviços, transformou indústrias mas sobretudo permitiu-nos mudar a vida de muitas pessoas em todos os cantos do mundo.
Joshua Okello nasceu no Uganda, um país em que muitas mulheres ainda morrem durante o parto. Ao ver que os estetoscópios usados para ouvir o bebé eram apenas um cone em plástico que a parteira encostava à barriga da mãe para o tentar fazer, lembrou-se de ligar este estetoscópio tão rudimentar a um simples telemóvel que pudesse transmitir os sons e toda a informação para um médico no hospital mais próximo, salvando assim muitas vidas.
Esta é a internet com que Tim BernersLee sonhou. Um mundo onde um estudante do Uganda consegue mudar e salvar a vida de tantas mulheres. A internet altruísta e de partilha de informação que permite que todos contribuam para um mundo melhor. E talvez por isso
Tim Berners-Lee, o inventor dessa internet altruísta, tenha pedido esta semana aos deputados europeus que votassem contra a nova diretiva europeia do direito de autor.
Mas a internet de hoje é também a internet em que tantos músicos, escritores e jornalistas veem o seu trabalho utilizado por outros sem receberem a justa remuneração pelas suas criações. Será aceitável um músico ver as suas músicas partilhadas sem ser remunerado por isso? Será aceitável um jornalista ver os artigos que assina copiados com intuito comercial sem compensação?
Estas práticas tornaram-se banais mas não são justas. Uma coisa é parti- lhar conhecimento; outra é partilhar ideias e criações artísticas. As criações são de quem as concebe e devem ser remuneradas.
Por isso é necessário que, de uma vez por todas, as plataformas tecnológicas verifiquem sempre se o que publicam respeita os direitos de autor. E também que tenham sistemas que possam remunerar convenientemente os criadores quando partilham trabalho que não é seu. Foi esta a proposta que fizemos ao Parlamento Europeu e que na semana passada não conseguimos ver ainda aprovada.
Se não aprovarmos esta proposta estaremos a aumentar cada vez mais o fosso entre uma internet ‘boa’ e altruísta como a de Joshua Okello e uma internet ‘má’ que explora os criadores e artistas levando a uma redução da inovação e criatividade nas nossas sociedades.
UMA COISA É PARTILHAR CONHECIMENTO; OUTRA É PARTILHAR CRIAÇÕES ARTÍSTICAS. AS CRIAÇÕES DEVEM SER REMUNERADAS
ESTA É A INTERNET COM QUE TIM BERNERS-LEE SONHOU. A INTERNET
ALTRUÍSTA DE PARTILHA
DA INFORMAÇÃO