Especulação imobiliária em Lisboa ataca antigo cinema de pornografia
ABREM GUERRA NACÂMARA DE LISBOA
AVENIDA DA LIBERDADE
Oito prédios arriscam perder a utilidade pública para servirem de habitações de luxo
PRÉDIOS
Olympia, antigo cinema porno, é um dos espaços que passará a empreendimento turístico
Oantigo Cinema Olympia, que reproduzia filmes pornográficos, é um dos oito imóveis na avenida da Liberdade que se arriscam a perder o fim de utilidade pública para se transformar em empreendimentos turísticos. É mais uma proposta controversa do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, amplamente contestada pelo Executivo e pela assembleia municipal, e que foi aprovada a 28 de fevereiro deste ano.
“Isto é de uma total discricionariedade”, disse ao CM o vereador do CDS João Gonçalves Pereira. A revisão do Plano de Ur- banização da Avenida da Liberdade e Z o nas E nvo lve nt e s (PUALZE) “tem sido adiada há anos e agora decide-se, não se sabe bem porquê, alienar imóveis de elevado valor histórico para servir a quem?”, questiona.
“A estratégia é errada, não vai servir os lisboetas mas sim os turistas”, atira a vereadora do PCP Ana Jara. E explica que “a desafetação vai fazer disparar preços, negando serviços públicos à população”.
Para entrar em vigor, a proposta ainda tem que passar pelo crivo da Assembleia Municipal. A presidente deste órgão, Helena Roseta, já enviou um pedido de esclarecimentos ao gabinete de Manuel Salgado sobre “os valores em causa, contrapartidas para a cidade e impacto da medida”. Roseta ainda não obteve resposta, mas a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) já emitiu um parecer negativo.
O ex-vereador socialista Fernando Nunes da Silva também contesta a decisão. “Há imóveis que, dado o seu valor histórico e localização, deveriam continuar na esfera pública”, declara. “Salgado tem uma estratégia e está a conseguir implementá-la, que é ter um centro dos ricos e uma periferia dos pobres .”
Questionada pelo CM, a autarquia de Lisboa defende-se argumentando que “os edifícios em causa deixaram de cumprir a função de uso público”, pelo que agora poderão servir para “habitação, turismo, serviços e comércio”. “A não alteração do uso ditaria a existência de mais oito imóveis devolutos no centro da cidade”, acrescenta.
CINEMA OLYMPIA PODERÁ
TRANSFORMAR-SE NUM EDIFÍCIO DE LUXO