Bem tratar e bem servir
Sempre defendi um Estado mais regulador do que um Estado proprietário ou mesmo gestor. A questão não está em ser mais ou menos liberal. A questão está em acreditar que um Estado serve melhor os cidadãos quando regula bem os vários sectores da sociedade, mesmo não sendo o dono das chamadas “forças da produção” - aqui entendidas num sentido mais lato do que marxista. Daí que, num momento em que regressa a discussão sobre em que mãos deve estar a posse dos serviços públicos - da saúde aos transportes, ou da educação à televisão, por exemplo -, o foco deveria ser outro: quem está em condições de melhor prestar esses serviços às pessoas, como é que elas ficam melhor servidas? Nestas perguntas está implícita não apenas a qualidade dos serviços prestados, mas outros factores igualmente indispensáveis como o seu acesso, a sua universalidade, a sua sustentabilidade, o seu custo individual e colectivo. Devemos procurar as melhores respostas, sem simplismos, ideias feitas ou paranóias ideológicas, que apenas inquinam a discussão e distorcem as soluções. Por outro lado, na frente das políticas públicas para áreas fortemente pressionadas, como são hoje a habitação e os transportes nos grandes pólos urbanos, é preciso ter coragem e capacidade para atacar de frente, e na raiz, os problemas. Questões como a especulação imobiliária ou os preços proibitivos no arrendamento resolvem-se, sobretudo, melhorando a oferta habitacional das cidades, nomeadamente criando mais e melhores casas a preços controlados. O mesmo se aplica aos transportes públicos: incentivar a sua utilização passa muito mais por melhorar e aumentar a oferta do que por reduções pontuais (porque pontualmente coincidentes com períodos eleitorais) dos preços dos passes. O que as pessoas querem do Estado é, afinal, muito simples: querem ser bem tratadas e bem servidas. Pelo que pagam em impostos, é justo.
AS PESSOAS QUEREM
SER BEM TRATADAS
E BEM SERVIDAS. PELO
QUE PAGAM EM IMPOSTOS, É JUSTO