Aldeia chora casal que deixou 2 órfãos
ALDEIA CHORA MORTE DE CASAL QUE DEIXOU DOIS FILHOS ÓRFÃOS
Apopulação de Cide, Seia, não esquece o dia em que perdeu dois dos seus habitantes e um ano após o incêndio de outubro de 2017 - que mataram 50 pessoas em todo o Centro faz hoje um ano - ainda chora a morte de António Bailão, 46 anos, e Raquel Bicho, de 30. O casal foi apanhado pelas chamas depois de colocar os dois filhos menores em segurança numa aldeia vizinha.
António e Raquel regressaram a Cide para salvar alguns dos bens que tinham em casa. Foram surpreendidos pelas chamas na estrada entre Cide e Vide. “O corpo de Raquel foi encontrado junto do carro. O de António a cerca de 50 metros mais à frente, ao lado de uma lanterna a pilhas que usou para tentar ver através do fumo intenso. Mas também não escapou”, conta o amigo António Correia. “Foi um choque muito grande. Nunca tínhamos assis- tido a um funeral com duas urnas, ainda por cima marido e mulher... e com dois filhos menores. Ainda hoje choramos por eles”, diz Aurora Basílio.
João e Conceição Simão, de 89 e 90 anos, primos do casal, falam de uma “aldeia traumatiza- da pela morte do António e da Raquel, mas que nem teve tempo para fazer o luto como devia, porque o fogo destruiu tudo e cada um tinha a sua própria tragédia para ultrapassar”.
Tomás e Rita, de 2 e 8 anos, foram acolhidos pela irmã mais velha, fruto do anterior casamento de António. “Vivem em Lisboa, longe desta memória triste. Já cá vieram entretanto. Estão muito bonitos, mas ao vêlos lembramo-nos dos pais e da tragédia por que passaram e voltamos a chorar como há um ano”, conta a prima.
Os incêndios destruíram nos concelhos de Seia e Gouveia, total ou parcialmente, 59 casas de primeira habitação. A Câma- ra de Seia refere que dos 37 processos no programa de Apoio à Reconstrução de Habitação Permanente, 10 estão concluídas e a reconstrução das restantes em execução. Em Gouveia, “há 22 processos de recuperação de casas de primeira habita- ção: 4 a obras de recuperação total e estão em fase adiantada, 5 casos de recuperação parcial já estão concluídos e outros estão em fase de conclusão”, refere Luís Tadeu, autarca.