As armas assinaladas
Depois de ter acontecido, a demissão do ministro da Defesa parecia inevitável. Mas a verdade é que, até acontecer, não pareceu nada disso, coisa que é efectivamente espantosa perante a natureza do caso que lhe deu origem: o roubo de armas em Tancos. O ex-ministro da Defesa conseguiu estar mais de um ano a lidar com a história como se fosse coisa de lana caprina, e o primeiro-ministro conseguiu manter aquela espécie de venusiano no cargo apesar de a dita história ter começado a soar mal desde o dia do desaparecimento das armas, no longínquo verão de 2017.
Mais do que demonstrativo do facto de Azeredo Lopes viver do outro lado espelho e António Costa se achar capaz de alimentar a fantasia, o caso revela o principal problema da actual situação política: a ausência de oposição. Já estamos habituados à versão cordeiro manso do PCP e do BE, mas que o PSD não tivesse abocanhado a história como um rottweiler é incrível e só expli- cável pelo peculiar estilo de oposição por omissão inaugurado por Rui Rio. Na verdade, se Joana Marques Vidal, no seu momento de saída em grande estilo da Procuradoria-Geral da República, não tivesse lançado a ‘Operação Húbris’, talvez Lopes ainda fosse ministro.
O PSD tem agora nova oportunidade para se agarrar a este episódio burlesco e, durante praticamente um ano, tentar minar as possibilidades eleitorais do PS. Mas o incrível Rio apareceu logo a elogiar o ex-ministro quando este se demitiu. Só que está tudo por explicar, levantando-se várias possibilidades, sendo a mais assustadora a seguinte: é crível que membros do Exército estejam envolvido em esquemas manhosos de tráfico de armas, com um elevado grau de cobertura pelas chefias, podendo o encobrimento da tramóia não se ficar apenas pelo ministro da Defesa e chegar a pontos mais altos no Governo. Mas tudo isto deve ser demais para Rio lhe pegar.
O INCRÍVEL RUI RIO APARECEU LOGO
A ELOGIAR O EX-MINISTRO QUANDO
ESTE SE DEMITIU