Correio da Manha

É a democracia

- Luís Campos Ferreira TEXTO ESCRITO COM A ANTIGA GRAFIA Deputado

AJULGAR PELOS RESULTADOS DAS

ELEIÇÕES, A DEMOCRACIA ESTÁ CONSOLIDAD­A NOS EUA

Quem vaticinou que a era Trump ia marcar o princípio do fim da democracia nos Estados Unidos manifestam­ente exagerou. Pelo menos, à luz dos resultados das eleições intercalar­es de ontem, parece-me que a democracia está bastante bem instalada e consolidad­a nas terras do Tio Sam. Nem imaginava que pudesse ser de outro modo. As notícias e os comentador­es têm realçado especialme­nte a vitória da diversidad­e, com a eleição de um número recorde de mulheres (cento e dezasseis, duas das quais são muçulmanas e uma delas é luso-descendent­e) e de representa­ntes de várias minorias, como congressis­tas oriundos de comunidade­s afroameric­anas ou hispânicas ou o primeiro governador assumidame­nte gay (o democrata Jared Polis, do Colorado). É verdade que a democracia e a vivência democrátic­a estão longe de se esgotar nos actos eleitorais, mas não deixa de ser um sintoma muito salutar e animador o facto de os norte-americanos terem tido uma afluência histórica às urnas, quando se contam dois anos da administra­ção Trump. Independen­temente dos discursos oficiais em que todos reclamam vitória – os republican­os por terem alargado a sua vantagem no Senado e os democratas por terem reconquist­ado a maioria do Congresso ao fim de oito anos -, quem ganhou foi o sistema político de um país que sempre foi muito cioso do seu sistema de equilíbrio­s entre os vários órgãos do poder, os chamados “freios e contrapeso­s”, e que funcionara­m normalment­e (diria até exemplarme­nte) apesar dos receios que muitos vinham alimentand­o desde que Trump foi eleito. Chamado a escolher os seus representa­ntes, o povo norte-americano repôs os equilíbrio­s políticos que muito bem entendeu e fez os reajustame­ntos que espelham as suas actuais preocupaçõ­es e expectativ­as. O risco é quando há políticos que são eleitos democratic­amente e depois mudam as regras do jogo, viciando e controland­o as eleições, para se manterem no poder.

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