É a democracia
AJULGAR PELOS RESULTADOS DAS
ELEIÇÕES, A DEMOCRACIA ESTÁ CONSOLIDADA NOS EUA
Quem vaticinou que a era Trump ia marcar o princípio do fim da democracia nos Estados Unidos manifestamente exagerou. Pelo menos, à luz dos resultados das eleições intercalares de ontem, parece-me que a democracia está bastante bem instalada e consolidada nas terras do Tio Sam. Nem imaginava que pudesse ser de outro modo. As notícias e os comentadores têm realçado especialmente a vitória da diversidade, com a eleição de um número recorde de mulheres (cento e dezasseis, duas das quais são muçulmanas e uma delas é luso-descendente) e de representantes de várias minorias, como congressistas oriundos de comunidades afroamericanas ou hispânicas ou o primeiro governador assumidamente gay (o democrata Jared Polis, do Colorado). É verdade que a democracia e a vivência democrática estão longe de se esgotar nos actos eleitorais, mas não deixa de ser um sintoma muito salutar e animador o facto de os norte-americanos terem tido uma afluência histórica às urnas, quando se contam dois anos da administração Trump. Independentemente dos discursos oficiais em que todos reclamam vitória – os republicanos por terem alargado a sua vantagem no Senado e os democratas por terem reconquistado a maioria do Congresso ao fim de oito anos -, quem ganhou foi o sistema político de um país que sempre foi muito cioso do seu sistema de equilíbrios entre os vários órgãos do poder, os chamados “freios e contrapesos”, e que funcionaram normalmente (diria até exemplarmente) apesar dos receios que muitos vinham alimentando desde que Trump foi eleito. Chamado a escolher os seus representantes, o povo norte-americano repôs os equilíbrios políticos que muito bem entendeu e fez os reajustamentos que espelham as suas actuais preocupações e expectativas. O risco é quando há políticos que são eleitos democraticamente e depois mudam as regras do jogo, viciando e controlando as eleições, para se manterem no poder.