FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES QUER PASSAR PARTE DO SEU ARQUIVO PARA A TORRE DO TOMBO.
CUSTOS r Em crise financeira há anos, a administração tenciona passar parte do arquivo à sua guarda para a Torre do Tombo DIFICULDADE r Alguns dos depositantes poderão não concordar
Já antes da morte do ex-presidente da República se começou a falar das dificuldades crescentes da Fundação Mário Soares (FMS). Em 2016 a instituição registou um saldo negativo de cerca de 280 mil euros e no ano passado o número chegou aos 388 mil euros. Só em 2017, ano da morte de Soares, os subsídios à FMS caíram de 316 mil para 175 mil euros. A EDP, por exemplo, cortou o apoio de 75 mil euros para 7 mil.
A solução encontrada pela atual administração foi reduzir a atividade e, de acordo com o
FILHA DE AMÍLCAR CABRAL NÃO QUER DOCUMENTOS NA TORRE DO TOMBO
jornal ‘Público’, entregar parte dos seus arquivos à Torre do Tombo. Na Fundação ficariam, apenas, o arquivo pessoal do ex-presidente da República e de alguns amigos próximos – casos do fundador do Partido Socialista Francisco Ramos da Costa e do es critor Manuel Mendes, íntimo de Soares desde o tempo da universidade.
Há, porém, uma dificuldade: grande parte daquilo que está na FMS não lhe pertence. Está apenas aí depositado e os proprietários dos arquivos poderão não concordar com a transição para a Torre do Tombo. Um dos casos mais gritantes é o do arquivo de Amílcar Cabral, o pai da independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde do colonialismo português. A FMS tem à sua guarda os documentos pessoais do líder político as- sassinado em 1973, para assegurar a sua “conservação, classificação, digitalização e difusão”, mas Iva Cabral, filha de Amílcar Cabral, não está disposta a entregá-los à Torre do Tombo, onde diz que se diluiriam.