Estado esquece vítimas de fogo
UM ANO rIncêndio na Associação de Vila Nova da Rainha matou 11 pessoas
José Luís Lopes vai outra vez ser operado. A sétima vez desde o incêndio de há um ano na Associação de Vila Nova da Rainha, em Tondela, que matou onze pessoas. Luís, 56 anos, sobreviveu à tragédia mas sofreu queimaduras graves nas mãos, nas pernas e na cabeça. Ficou sem dedos. Para ele, que chora quando fala das filhas de 18 e 23 anos, a desgraça não veio só. Perdeu a mãe, três dias antes da fatídica noite de 13 de janeiro que também lhe levou um irmão e o parceiro da sueca.
Desde então tudo mudou. Não tinha como a vida não alterar. “A minha mulher teve de deixar de trabalhar. As minhas filhas sofreram muito. Tem sido tudo tão difícil. Sou forte, apesar de continuar a ter apoio psicológico, e não vou desistir. Tenho de lutar pela família e pelos amigos”, diz, emocionado.
Vi v e e n t r e t r at amentos e com 500 euros mensais da Segurança Social. Mas o pior é que ninguém o ajudou. “A mim e a todos os outros. Esqueceram-se de nós. Todos eles, o Estado e a câmara, ninguém quis saber”, lamentou. Um ano depois tenta repa- rar a dor da alma mas a revolta às vezes fala mais alto. “Fui massagista desportivo durante 25 anos e era procurado por atletas. Hoje já não posso fazer nada disso e isso dói muito”, esclareceu. Para o futuro só deseja que a recuperação se faça depressa e com resultados, a bem da estabilidade familiar. “Este ano vai, com certeza, ser melhor do que o passado. Desejo que o Estado olhe para isto como uma tragédia nacional e ajude, até porque não sei quem vai pagar as despesas hospitalares.”
PERDEU IRMÃO E COLEGA NO INCÊNDIO. MÃE TINHA MORRIDO 3 DIAS ANTES