Correio da Manha

Os populismos são todos maus

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Opopulismo gera uma classe de políticos que pensam que estão acima da verdade. Quando os políticos deixam de se preocupar com a verdade dos factos estão a incentivar que outros façam o mesmo.

No fundo estão a dar o sinal à sociedade que os factos não são importante­s. Desde os anos 90 que acompanho a política americana que tradiciona­lmente sempre se situou mais à direita do que a política europeia, mas dentro de um centro e uma direita moderada: Clinton vs Bush Sr., Clinton vs. Dole, Bush Jr vs Al Gore, Bush Jr. vs. Kerry, Obama vs. McCain. Aliás, cada ano que passa este passado parece cada vez mais moderado por comparação com a situação atual.

As últimas eleições vieram mudar este paradigma e deixaram o sistema dividido numa luta entre um candidato que não tinha medo de modificar factos, ou de mudar de opinião no mesmo dia, assumindo e acreditand­o no que o fazia sem um qualquer sentimento de vergonha alheia e um partido democrata que não sabia como reagir a um mundo com regras radicalmen­te diferentes.

Criou-se uma janela de oportunida­de para um político à esquerda que adotasse as ‘regras do jogo’ definidas por Trump. Que soubesse utilizar as redes sociais como o presidente dos EUA: ou seja, sem filtros. Assim nasceu o novo fenómeno da esquerda americana Alexandria OcasioCort­ez. Do alto dos seus 29 anos vem declarar que o passado do Partido Democrata conta pouco e que ela está aqui para mudar o partido e a política. O seu frenesim mediático rapidament­e a levou a declaraçõe­s populistas e pouco sustentada­s em factos. Numa entrevista que deu ao programa ‘60 minutes’ esta semana disse o seguinte: “Eu penso que há muita gente mais preocupada em ser precisa e factual do que em estar moralmente certa.”

Esta frase define muito bem as semelhança­s, mas também as subtis diferenças entre o populismo à direita e o populismo à esquerda. Ambos distorcem a realidade à sua maneira. O populista de direita acredita, ou finge que acredita, no que diz mesmo que não seja verdade: nunca vemos Trump admitir que errou. O populismo à esquerda assenta numa certa ideia de superiorid­ade moral. Ou seja, quando os factos não corroboram a realidade é porque a realidade está errada e eu estou certo.

Lembrei-me de uma longa conversa em que a Zita Seabra me dizia que para compreende­r o comunismo era essencial ler um livro de Álvaro Cunhal chamado ‘A superiorid­ade moral dos comunistas’.

Não nos enganemos: ambos os populismos são perigosos e gostava de ouvir falar mais em Portugal, com o mesmo peso e medida, destes dois tipos de populismo.

QUANDO OS POLÍTICOS DEIXAM DE SE PREOCUPAR COM A VERDADE DOS FACTOS ESTÃO A INCENTIVAR QUE OUTROS FAÇAM O MESMO

AMBOS OS POPULISMOS SÃO PERIGOSOS E GOSTAVA DE OUVIR FALAR MAIS EM PORTUGAL COM O MESMO PESO E MEDIDA

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