Direita ao abismo
Antigamente, era da esquerda que se dizia que se fragmentava em seitas e seitazinhas argumentando ‘ad infinitum’ sobre bizantinices, enquanto à direita imperava o pragmatismo, esquecendo-se as diferenças em nome do exercício do poder. Agora, parece que é ao contrário. Para além do CDS, temos o PSD, que virou a mãe de todos os partidos: do seu profícuo ventre, nasceram já o Aliança, o Chega, o Democracia 21 e a Iniciativa Liberal; somando-se a isto três fações internas: Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Morgado. Tudo rematado, com muita ironia, por um movimento procurando juntar docemente os cacos, o MEL.
Mas esta pulverização tem um só responsável: Rui Rio e a sua desastrada liderança do PSD. Rio decidiu levar mesmo a sério a tarefa heroica de não confundir o PSD com a Direita. Quando ele se apresentou assim, sempre me pareceu que cedo chegaria a uma conclusão: que, para a sua existência ter sentido, deveria ocupar o largo espaço político à direita do PS. Esquerda e direita não são palavras que tenham conteúdo intrínseco. Quando muito, têm conteúdo aproximado e, sobretudo, relativo: quando se diz que Sá Carneiro ou Cavaco nunca se definiram como de direita, esquece-se que foram vistos por toda a gente como tal. Aquilo que eles defenderam (liberalização e democracia representativa) foi visto à época como radicalismo de direita, mesmo se hoje é a absoluta normalidade, até para os partidos radicais de esquerda. Estamos falados quanto ao valor absoluto da direita e da esquerda.
Rio só tinha de dirigir-se à multidão que não se revê no Governo da esquerda toda. E tinha muito por onde pegar: desde os custos que essa solução teve para reformar o país até ao empobrecimento dos serviços públicos, só para satisfazer clientelas. Em vez disso, escolheu deixar imensas pessoas sem voz. É natural que elas procurem agora reencontrá-la.
RUI RIO DECIDIU LEVAR MESMO A SÉRIO A TAREFA HEROICA DE NÃO CONFUNDIR O PSD
COM A DIREITA