Professores e ministra da Cultura contra obras censuradas
ENSINO r Decisão de editora de corte de três versos que “se relacionam com a prática da pedofilia” não convence docentes PSIQUIATRIA r Alunos de 17 e 18 anos têm estrutura para leitura do poema
Os professores de português rejeitam que obras literárias possam ser estudadas com cortes. A presidente da Associação de Professores de Português, Filomena Viegas, disse ao CM que “os programas de ensino preconizam e têm como regra que os textos sejam estudados na íntegra”. “Sou apologista de textos integrais”, referiu Filomena Viegas em reação à polémica levantada pelo livro ‘Encontros - 12º ano’, em que três versos do poema ‘Ode Triunfal’, de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, foram substituídos por tracejados.
MINISTRA DA CULTURA DIZ QUE OBRAS DEVEM SER CONHECIDAS NO SEU TODO
Por opção editorial desapareceram os seguintes versos: “Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas” e “E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o!/ Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada”.
Para a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, “alunos com 17 e 18 anos têm estrutura para ler o poema”. “O manual poderia ter chamado a atenção para a sensibilidade do tema e do possível acompanhamento do professor”, referiu.
Num curto comentário, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, considerou ontem que as obras “devem ser conhecidas no seu todo”. E remeteu explicações para o Ministério da Educação, que não reagiu.