Correio da Manha

Voto secreto e coragem

- Luís Campos Ferreira Gestor TEXTO ESCRITO COM A ANTIGA GRAFIA

Ébizarro falar nos méritos do voto secreto em pleno 2019. Afinal, estamos em Portugal, que daqui a três meses comemora 45 anos de liberdade, não somos propriamen­te uns principian­tes em matéria de vivência democrátic­a. Por maioria de razão, é ainda mais bizarro ter que falar na importânci­a do voto secreto quando nos referimos à vida interna do Partido Social Democrata. Um partido que, como nenhum outro (ou até ao contrário de outros), se caracteriz­a desde o início pela liberdade de expressão dos seus militantes, nas suas mais diversas manifestaç­ões e formas de exercício. Por isso, a dúvida que foi alimentada sobre se a votação no Conselho Nacional extraordin­ário de hoje será secreta ou por braço no ar não devia ter sido sequer suscitada. Não devia ser assunto, ponto. Pensava eu que num partido como o meu, que nunca tolerou exercícios de poder autocrátic­os nem persecutór­ios, o valor da liberdade e das mais elementare­s regras democrá- ticas nunca pudessem estar em cima da mesa nem ser postos à discussão. Pensei que o direito ao voto secreto – que é, na prática, o direito ao voto livre, sem pressões nem condiciona­mentos -, estivesse totalmente interioriz­ado e fosse integralme­nte respeitado por todos, independen­temente de nos dar jeito ou não. Não devia ser necessário recorrer aos regulament­os do partido para dirimir esta questão porque a questão nem devia ter sido colocada, de tão absurda ela é. Deveria ser bastante recorrer aos princípios, à memória e aos valores que enformam este partido desde a sua génese. Em democracia, o voto secreto nunca retira força nem coragem às posições que defendemos no exercício da nossa liberdade. Pelo contrário, quem sugere isso é que manifesta medo em perder alguma coisa. Porque não há coragem nenhuma em condiciona­r, em coagir, em pressionar, com votações de braços no ar. Isto sim, é que é um ataque ao PSD.

EM DEMOCRACIA, O VOTO SECRETO NUNCA RETIRA FORÇA NEM CORAGEM ÀS POSIÇÕES

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