Voto secreto e coragem
Ébizarro falar nos méritos do voto secreto em pleno 2019. Afinal, estamos em Portugal, que daqui a três meses comemora 45 anos de liberdade, não somos propriamente uns principiantes em matéria de vivência democrática. Por maioria de razão, é ainda mais bizarro ter que falar na importância do voto secreto quando nos referimos à vida interna do Partido Social Democrata. Um partido que, como nenhum outro (ou até ao contrário de outros), se caracteriza desde o início pela liberdade de expressão dos seus militantes, nas suas mais diversas manifestações e formas de exercício. Por isso, a dúvida que foi alimentada sobre se a votação no Conselho Nacional extraordinário de hoje será secreta ou por braço no ar não devia ter sido sequer suscitada. Não devia ser assunto, ponto. Pensava eu que num partido como o meu, que nunca tolerou exercícios de poder autocráticos nem persecutórios, o valor da liberdade e das mais elementares regras democrá- ticas nunca pudessem estar em cima da mesa nem ser postos à discussão. Pensei que o direito ao voto secreto – que é, na prática, o direito ao voto livre, sem pressões nem condicionamentos -, estivesse totalmente interiorizado e fosse integralmente respeitado por todos, independentemente de nos dar jeito ou não. Não devia ser necessário recorrer aos regulamentos do partido para dirimir esta questão porque a questão nem devia ter sido colocada, de tão absurda ela é. Deveria ser bastante recorrer aos princípios, à memória e aos valores que enformam este partido desde a sua génese. Em democracia, o voto secreto nunca retira força nem coragem às posições que defendemos no exercício da nossa liberdade. Pelo contrário, quem sugere isso é que manifesta medo em perder alguma coisa. Porque não há coragem nenhuma em condicionar, em coagir, em pressionar, com votações de braços no ar. Isto sim, é que é um ataque ao PSD.
EM DEMOCRACIA, O VOTO SECRETO NUNCA RETIRA FORÇA NEM CORAGEM ÀS POSIÇÕES